domingo, 31 de julho de 2011

Guerra contra a Líbia: Uma loucura perversa e mal intencionada


Charles Abugre, o autor, é diretor regional da Campanha “Milênio” da ONU, para a África

A invasão foi planejada e a oportunidade para executá-la, muito propícia.

Há quem diga que “o tempo cura todas as feridas” emocionais. Se fosse assim, por que me sinto cada dia mais furioso, com a escandalosa invasão da Líbia, sob falsos pretextos, há quatro meses? Trata-se exatamente disso: a Líbia está sob ataque por mar e ar, sob bombardeio direto de forças especiais estrangeiras em território líbio. O objetivo exposto da invasão seria o que se tem chamado de “troca de regime”. O objetivo visível das bombas que matam líbios e estão reduzindo a ruínas a capital Trípoli é um só: ajudar um grupo de rebeldes que o ocidente reuniu e armou, a depor o governo do coronel Gaddafi. O bombardeio aéreo começou sob expectativa delirante de que, no instante em que as bombas começassem a cair sobre Trípoli, os líbios de Trípoli levantar-se-iam contra Gaddafi; na situação que assim se criaria, um grupo já armado viria de Benghazi e assumiria o poder. O tempo passou, e, agora, a única estratégica dos invasores é o desespero. Vale qualquer tática para tentar matar ou expulsar Gaddafi e seus filhos.

É exatamente a mesma tática dos anos 1960s, usada outra vez pelos mesmos atores, para derrubar governos que não se ‘subordinaram’. O plano fracassou. Quatro meses depois do início da carnificina, Gaddafi ainda salta do esconderijo de onde resiste e pode gritar insultos contra os exércitos invasores.

A invasão à Líbia foi planejada. No que tenha a ver com os EUA, já estava planejada desde os primeiros dias da ‘guerra contra o eixo do mal’ de George Bush Filho. No que tenha a ver com a França, o planejamento já era ativo, no mínimo, desde outubro de 2010. É altamente provável que o planejamento tenha começado por assegurar que houvesse armas e alguns soldados em Benghazi, à espera do momento propício.

Só isso explica que as manifestações civis em Benghazi, que começaram como outras em Túnis e no Egito, como manifestações de civis desarmados, em apenas dois dias tenham-se transformado em rebelião armada; e que, em menos de um mês, a rebelião local já estivesse convertida em invasão militar por forças da OTAN e da França. É absolutamente impossível que esses eventos tenham-se sucedido tão rapidamente, sem planejamento.

Não há nem o que discutir: é inegável que já havia forças britânicas, holandesas e francesas, além de forças especiais italianas, dentre outras, em campo, não só em Benghazi mas por todo o país. São fatos já sabidos: a mídia britânica noticiou; como houve notícias, também, do modo como Holanda e Grã-Bretanha tentavam introduzir soldados de suas forças especiais na Líbia, nos primeiros momentos das manifestações. Houve o caso do helicóptero de forças especiais britânicas que pousou no meio de tropas rebeldes e foi imediatamente capturado e a captura foi comemorada... antes que os rebeldes percebessem que eram ‘soldados aliados’. Dias depois, os holandeses fizeram ainda pior: pousaram onde não deviam pousar e foram capturados pelas forças de Gaddafi, que os fez fotografar pela imprensa e em seguida devolveu-os à Europa. Para saber que nada ali havia sido forjado, bastava ver o brilho no rosto do filho de Gaddafi.

Já havia penetração clandestina de forças especiais em território líbio, como informa Franco Bechis, jornalista italiano, na edição de 24 de março do jornal Libero[1] (matéria reproduzida em www.economicsnewspaper.com[2]), no mínimo, em 16/11/2010, quando um grande grupo de franceses chegou a Benghazi, apresentando-se como empresários que sondavam oportunidades de negócios para investir na agricultura líbia. Muitos desses ‘empresário’ eram, de fato, soldados.

Segundo Franco Bechis, no Maghreb Confidential[3], os franceses começaram a planejar ativamente a troca de regime na Líbia dia 21/10/2010, quando Nuri Mesmar, chefe de protocolo de Gaddafi e seu braço direito, chegou a Paris para uma cirurgia. Mesmar não esteve com médicos. Todos seus contatos foram agentes do serviço secreto francês e assessores próximos de Sarkozy. Mesmar também era responsável pelo ministério da Agricultura. Dia 16 de novembro, Mesmar aprovou a estratégia de introduzir soldados na Líbia, disfarçados como delegação de empresários. Dois dias depois, um avião pousou em Benghazi, levando soldados, dentre outros agentes, e ali se reuniram, dentre outros, com comandantes militares líbios; o objetivo era convencê-los a desertar. Um dos que concordou foi o coronel Gehan Abdallah, que, chegado o momento, liderou a rebelião armada. De onde veio essa informação? Do serviço de inteligência italiano.

A função de Nuri Mesmar – os franceses usaram-no para apunhalar pelas costas um seu amigo, que o receberia sem cautelas – é velha como a história de Brutus e Cesar, na peça Julius Caesar de Shakespeare; faz pensar também no que fez o capitão Blaise Campaoré de Burkina Faso, usado pelos franceses para executar seu mais íntimo amigo, Thomas Sankara.

Mas não foram só os franceses que planejaram o movimento ‘dos rebeldes’ de Benghazi. O chefe do Conselho Nacional Líbio, coronel Khalifa, chegou dos EUA dia 14 de março, para comandar a rebelião armada, um mês depois de iniciada. O coronel Khalifa vivia nos EUA desde os anos 1980s, trabalhando, como se suspeita como agente da CIA. Esse fato foi revelado em livro publicado em 2001, de Pierre Pean, intitulado “O Manejo da África” [African Handling]2.

A edição de 31 de março do New York Times publicou matéria em que se lê: “A CIA infiltrou agentes secretos na Líbia para reunir inteligência de orientação para ataque aéreo e fazer contato com veteranos e rebeldes que combatem as forças do coronel Gaddafi, segundo declararam agentes americanos.”[4] Khalifa, Mesmar e outros serão acompanhados, na liderança do Governo Provisório por alguns dos mais temidos membros do regime de Gaddafi, entre os quais Jalil Mustafa Abud, que até o levante fora ministro da Justiça e é listado pela Anistia Internacional como um dos mais notórios violadores de direitos humanos do planeta.

Ridículos falsos pretextos

Escolhi deliberadamente a expressão “ridículos falsos pretextos” para caracterizar as desculpas que foram servidas à opinião pública, por imprensa facciosa. Por quê? A resolução n. 1.973 da ONU define o único objetivo de “proteger civis”. Há dois conjuntos de princípios a partir dos quais se pode inferir que seja o caso de proteger civis. Um, o princípio segundo o qual todos os combatentes são responsáveis, nos termos da Convenção de Genebra. Esse princípio está acolhido nas resoluções do Conselho de Segurança n. 1.265, 1.296 e 1.820, dentre outras.

Combatentes armados, dos dois lados em luta, que violem a Convenção de Genebra, podem ser considerados responsáveis, nos termos dessas resoluções, e podem ser apenados e, por extensão, podem ser levados à Corte Internacional de Justiça Criminal [ing.International Criminal Court (ICC)], pela prática de violações definidas como crimes contra a humanidade e crimes de guerra ou genocídio. Mas essas resoluções, evidentemente, não legalizam nenhuma intervenção militar por força estrangeira.

O segundo princípio é o princípio da “responsabilidade de proteger” (“R2P”). Baseia-se no conceito de segurança ‘sem limites de fronteira’, que é título do relatório da Comissão sobre Intervenção e Soberania do Estado [ing. International Commission on Intervention and State Sovereignty (ICISS)] divulgado em dezembro de 2001 e subsequentemente adotado como princípio operacional pela ONU. Essa comissão, presidida por Gareth Evans e Mohamed Sahnoun, estudou o relacionamento entre (a) os direitos dos estados soberanos, sobre os quais se construíram a maior parte das relações internacionais; e (b) o chamado “direito de intervenção humanitária” que tem sido exercido esporadicamente – na Somália, Bósnia e Kosovo, mas não em Ruanda –, com graus variados de sucesso e controvérsia internacional.

O relatório examina a seguinte questão: “em que casos será apropriado que estados empreendam ação coercitiva – especificamente militar – contra outro estado, com vistas a proteger pessoas que estejam em risco naquele outro estado”.

O estudo concluiu que a prioridade deve ser garantida aos seres humanos, não à soberania do estado. Portanto, se houver ameaça à segurança de seres humanos – à segurança física e à dignidade humana – e ameaça criada pelo estado, ou no caso de o estado manifestar incapacidade severa para defender seus cidadãos, a comunidade internacional passará ter a responsabilidade de agir, incluída aí a ação de intervenção militar armada. O princípio R2P impõe que a lei humanitária se sobreponha aos direitos de soberania. O princípio R2P tem sido muito citado, sobretudo por organizações humanitárias ocidentais, e a ONU tem celebrado sua adoção.

Mas há também os que chamam a atenção contra os riscos de adotar-se esse princípio, e por inúmeras razões. Em primeiro lugar, pôr a lei humanitária à frente da soberania implica impor razões humanitárias acima dos direitos do cidadão, que dependem de respeito à soberania. Em segundo lugar, o princípio R2P abre a porta para intervenções seletivas e justiça seletiva, que passa a poder ser exercida por quem controle o Conselho de Segurança da ONU. Cria-se assim uma relação em que todos os países passam a depender politicamente (e legalmente) do Conselho de Segurança da ONU e de países militarmente fortes. Assim, se acabará por minar as próprias fundações da justiça e da paz duradoura, que dependem de processos políticos locais, domésticos.

Mas fato é que a Resolução n. 1.973 foi elaborada sob o pretexto do R2P, para ‘legalizar’ a invasão à Líbia. Os países da OTAN desejavam invadir, isso sim; não apenas minimizar algum eventual dano que os civis líbios viessem a sofrer. Os países da OTAN invadiram para derrubar o governo do coronel Gaddafi.

É razoável invadir militarmente um país, alegando razões humanitárias? É, no mínimo, muito discutível. No caso da Líbia, a resposta certa só seria conhecida depois da invasão... no caso de as forças de Gaddafi virem a bombardear Benghazi como Gaddafi ameaçou fazer. O que se sabe hoje é que a força aérea de Gaddafi não bombardeou alvos civis em Benghazi, e, como a Anistia Internacional já declarou, não se constataram estupros em massa pelas forças do estado líbio. Também se sabe que a repressão violenta contra a manifestação civil do dia 15 de fevereiro não foi a primeira. O último grande caso de repressão violenta contra manifestantes aconteceu na Líbia em 2006. Como vários ditadores norte-africanos e do Oriente Médio, Gaddafi reprimiu com violência o levante de 2006, feriu alguns e prendeu outros. Não houve assassinatos em massa e, naquela ocasião, a ação de Gaddafi foi tacitamente apoiada – com destaque para o apoio que recebeu dos EUA – como legítima resposta à influência maléfica da Al-Qaeda.

A verdade simples é que, dois dias depois de iniciado o levante popular, a situação já era de guerra na Líbia. Já estava convertida em insurgência armada; e todos os estados têm pleno direito de usar o exército contra insurgência armada.

Estamos cansados de ver acontecer nos EUA, sempre que respondem a fanáticos religiosos ou a gangues de traficantes em bairros pobres, de maioria negra.

Não haveria melhor modo de proteger vidas humanas? Claro que sim, se dessem uma chance à paz.

Todos sabemos que o presidente Lula da Silva (ex-presidente do Brasil) ofereceu-se para liderar uma missão de mediação, que tentaria negociar um cessar-fogo.

Foi iniciativa apoiada por países da América Latina, pela União Africana e, até, pela sempre acovardada Liga Árabe. Gaddafi aceitou a ideia de um cessar-fogo, desde que as forças internacionais também aceitassem. A NATO rapidamente destruiu essa iniciativa, com seus vassalos em Benghazi. A missão da União Africana foi humilhada em Benghazi e toda a grande mídia ocidental dedicou-se a promover ‘debates’ que nada fizeram além de ridicularizar as iniciativas da União Africana. Ninguém deu qualquer chance à paz. Por quê? Porque a agenda real visava a derrubar Gaddafi, não a proteger civis.

Se a intervenção militar seria tão boa via para proteger civis, por que a OTAN não invadiu o Iêmen, onde levante absolutamente pacífico foi suprimido a tiros, com munição real e máxima brutalidade? Robert Gates, que até recentemente foi secretário de Defesa dos EUA respondeu: “Não nos parece que seja nossa obrigação intervir nos assuntos internos do Iêmen”. Talvez, porque o ditador do Iêmen seja “nosso ditador”? Talvez porque lute contra separatistas de esquerda, de quem “nós! não gostamos? Talvez porque o Iêmen hospede a 5ª. Frota dos EUA?

E quanto ao Bahrain, minúsculo. onde a família real é proprietária de quase todas as ilhas que compõem o reino, e onde, com apoio de soldados sauditas, grande número de manifestantes desarmados foram fuzilados nas ruas? Ouve-se algum boato de que o sultão será julgado pela Corte Internacional de Haia? Esse, precisamente, é o uso discriminatório, seletivo, do princípio da ‘responsabilidade para proteger’ que muitos tanto temiam. [Continua]



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[1] “Libia. La Francia ha armato i ribelli di Bengasi? Le manovre degli 007 di Sarkò con un fedelissimo di Gheddafi”, emhttp://www.blitzquotidiano.it/politica-mondiale/libia-francia-ribelli-bengasi-007-gheddafi-794604/, 23/3/2011 (em italiano) emhttp://www.blitzquotidiano.it/politica-mondiale/libia-francia-ribelli-bengasi-007-gheddafi-794604/
[2] “Understanding the war in Libya”, Economics Newspaper, em http://economicsnewspaper.com/economics/understanding-the-war-in-libya-11018.html
[3] Em português, no Blog Maria Frô, 25/3/2011, em http://mariafro.com.br/wordpress/2011/03/25/bechis-servico-secreto-frances-conspira-contra-gadaffi-desde-novembro/ (tradução de Victor Farinelli).
[4] “C.I.A. Agents in Libya Aid Airstrikes and Meet Rebels”, New York Times, 31/3/2011, em http://www.nytimes.com/2011/03/31/world/africa/31intel.html?_r=1&hp. A matéria prossegue: “Apesar de o presidente Obama insistir em que nenhum militar norte-americano participa da campanha na Líbia, pequenas unidades de agentes da CIA já trabalham na Líbia há várias semanas, como parte de força clandestina ocidental que o governo Obama espera que possa ajudar a sangrar o exército de Gaddafi – disseram fontes oficiais.” Em http://slantedright2.blogspot.com/2011/03/libya-conflict-situation-update.html, que visivelmente é página da extrema direita dos EUA, reúne matérias de praticamente todos os grandes jornais dos EUA, da mesma data, dizendo, todas, exatamente a mesma coisa: que a CIA estava na Líbia em março de 2011 [NTs].

sábado, 30 de julho de 2011

Morte de comandante divide rebeldes na Líbia


A morte do comandante Abdul Fattah Younes, chefe militar dos grupos rebeldes financiados pelo ocidente em Benghazi, enfraqueceu ainda mais a oposição ao líder Muamar Kadafi.
Enquanto o cortejo fúnebre de Abdul Fattah Younes levava o caixão para a sepultura, combatentes mercenários recém-chegados do front de batalha estavam desiludidos e acusavam o golpe da morte do comandante militar dos rebeldes líbios.
Para o povo árabe líbio, que mais uma vez resiste heroicamente a uma guerra de agressão de potências invasoras, Younes mereceu o fim que teve porque traiu a Revolução libertadora Al Fateh, e tentou vender o país a potências sanguinárias e opressoras – EUA, França e Inglaterra, com centenária tradição de escravização e domínio de nações africanas.
Younes foi ministro da Segurança de Kadafi até fevereiro, quando rompeu com o regime em vigor há 41 anos e aderiu aos rebeldes que tentam derrubar Kadafi. Sua morte, ocorrida na quinta-feira, foi um golpe para os rebeldes e para os seus apoiadores ocidentais, e certamente contribuirá com a derrota dos grupos rebeldes financiados pelo ocidente, a serviço do imperialismo norte-americano.
Detalhes sobre o assassinato de Younes permanecem confusos ou não revelados pela imprensa ocidental, mas o chefe rebelde mercenário Ali Tarhouni disse na noite de sexta-feira que combatentes rebeldes que haviam sido despachados para levá-lo do front, perto de Brega, para prestar um depoimento em Benghazi, o mataram e desovaram seu corpo nos arredores da cidade.
Um líder miliciano foi preso e confessou que seus subordinados cometeram o homicídio, segundo Tarhouni, mas outrosrebeldes disseram que foram todos executados.
No enterro, o cemitério de Benghazi mais parecia um campo de batalha, de tão intensos eram os disparos feitos por fuzis AK-47, metralhadoras e baterias antiaéreas. Os participantes eram atingidos pelas cápsulas vazias cuspidas pelas armas, e o cheiro de pólvora dominava o ambiente.
"O general Abdul Fattah Younes era nosso pai. Ele era um símbolo da revolução", disse o coronel Ali Ayad, que voltou do front de combate ao saber da morte de Younes.
Diante do caixão coberto com a bandeira vermelha, preta e verde da monarquia Líbia, os mercenários presentes gritavam "Allahu Akbar" ("Deus é grande"). O féretro passou entre duas filas de combatentes, vários deles portando fotos de Younes, outros agitando bandeiras da monarquia.
Ayad ameaçou com vingança e acusou partidários de Kadafi infiltrados no leste rebelde de terem assassinado Younes. Outros disseram haver traidores entre as fileiras insurgentes. Esses e vários outros rumores e teorias conspiratórias circulavam por Benghazi, a "capital" dos rebeldes, que ainda não foram dizimados porque contam com apoio militar da Otan, isto é, dos EUA, França e Inglaterra.
Analistas dizem que a morte de Younes, ex-comandante das forças insurgentes, é apenas aponta de um iceberg que revela a fragilidade dos rebeldes. Centenas de apoiadores do líder Muamar Kadafi estariam infiltrados nas fileiras dos rebeldes, incentivando divisões e conflitos internos. A disputa pela sucessão de Younes, e o acesso a milhares de dólares das potências estrangeiras, estaria sendo disputada por Khalifa Heftar, que não tem apoio da maioria dos rebeldes porque no passado foi um dos mais leais servidores do governo líbio.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Principal líder militar rebelde líbio está morto


O chefe das forças armadas dos rebeldes da Líbia e dois de seus assessores foram mortos nesta quinta-feira, informação confirmada pelo chefe da liderança rebelde.
A morte de Abdel Fattah Younes – que pode significar o fim da guerra na Líbia ou seu recrudescimento – foi anunciada numa conferência de imprensa na capital rebelde, Benghazi, pelo chefe do “Conselho Nacional de Transição”, Mustafa Abdul Jalil. Ele disse aos jornalistas que a própria segurança dos rebeldes havia prendido o chefe do grupo e provavelmente estava por trás do assassinato.
Segundo Jalil, a segurança rebelde prendeu Younes e dois de seus assessores na quinta-feira, em sua sala de operações, localizada próxima à frente dos rebeldes do leste. Autoridades de segurança disseram que Younes seria questionado sobre as suspeitas de que sua família ainda tinha laços com o regime de Muammar Gaddafi. Younes foi ministro do Interior de Gaddafi, antes de desertar para os rebeldes no início do levante, que começou em fevereiro.
Jalil disse que Younes havia sido convocado para um interrogatório sobre "uma questão militar". Ele afirmou que Younes e seus dois assessores, um coronel e um major, foram baleados antes que chegassem para o interrogatório.
A morte de Abdel Fattah Younes é um duro golpe para a OTAN que vem apoiando os rebeldes que atuam em Benghazi e aterrorizam a cidade há quatro meses. Younes tornou-se chefe militar da rebelião com o apoio de estrangeiros ligados à Al-Qaeda e militares da OTAN. Após a notícia de sua morte, a população que não apóia a movimentação rebelde, saiu às ruas e retomou o controle do aeroporto local e algumas bases militares.
Os rebeldes vêm recebendo apoio dos EUA, Grã-Bretanha, França e outros membros da OTAN e nos últimos dias haviam recebido o reconhecimento como liderança legitima da Líbia pelo governo britânico. A mídia ocidental vem procurando minimizar o apoio da Al-Qaeda ao grupo de oposição.
Há ainda relatos de que um grupo dissidente dos rebeldes avançou sobre membros do “Conselho Nacional de Transição” exigindo nova liderança civil. Outro grupo exige a devolução do corpo de Abdel Fattah e seus assessores. O grupo responsável pelas mortes se recusa a entregar os corpos para suas tribos de origem e afirmam ter enterrado os corpos sem cerimônias, em retaliação aos quatro meses de ocupação que obrigaram grande parte da população a fugir pela fronteira com o Egito, deixando suas casas para serem saqueadas pelos grupos rebeldes.
As mulheres que escolheram ficar relatam que foram forçadas a se vestirem com o véu completo, quando antes tinham a liberdade de escolher se o usariam ou não. Cidadãos estão confinados em suas casas e temem ser punidos, com tortura ou morte, se forem pegos com qualquer objeto que identifique apoio a Muammar Gaddafi, como o menino que foi empalado com a bandeira verde, símbolo do apoio ao governo líbio. Alguns vídeos contêm tantas atrocidades postadas com “orgulho” pelos próprios rebeldes, que são constantemente retiradas pelo Youtube.
O governo líbio, através de seu porta-voz Musa Ibrahim, vem afirmando que seu exército apenas atua na tentativa de “proteger cidadãos e famílias nas cidades ocupadas”, para que não haja abusos, mas que ordenou que “evitem conflitos diretos dentro das cidades”. Um vídeo mostra tropas do exercito líbio correndo na direção contrária ante o avanço dos rebeldes que parecem em sua maioria, desarmados nesse momento. Nenhum dos lados atira, é clara a intenção dos soldados em apenas recuar estrategicamente.
O líder rebelde Mustafa Abdul Jalil se referiu a Younes como “um dos heróis da revolução de 17 de fevereiro", data de início dos protestos contra o regime de Gaddafi.
Ele afirmou que Gaddafi vem procurando quebrar a unidade das forças rebeldes, mas fez uma advertência dura acerca de "grupos armados" que estavam atuando em cidades controladas pelos rebeldes, dizendo que eles “precisavam se juntar à luta contra Gaddafi, ou corriam o risco de serem presos pelas forças de segurança”.
Houve relatos de tiros fora do Hotel Tibesti, onde a conferência de imprensa foi realizada, logo após as declarações de Jalil. O líder rebelde não respondeu a nenhuma pergunta.
Uma hora depois, pelo menos três fortes explosões sacudiram o centro da capital Trípoli. Duas explosões foram ouvidas por volta das 10h20min da noite, hora local, seguida por outra explosão alguns minutos depois. A televisão líbia relatou que aviões estavam sobrevoando a cidade. Trípoli tem sido alvo de numerosos ataques aéreos da OTAN mesmo não tendo registros de conflitos rebeldes.
Enquanto isso, combatentes da oposição nas montanhas ocidentais lançaram ataques em várias cidades controladas pelo governo, na esperança de empurrar as tropas legalistas e abrir uma rota para a fronteira. Em especial a fronteira para o Egito, que está fechada há alguns dias.
Os ataques começaram por volta do amanhecer com rebeldes ao redor das cidades de Nalut e Jadu em uma tentativa de expulsar as forças leais ao líder Muammar Gaddafi do sopé da montanha Nafusa. Por volta do meio-dia local, os rebeldes haviam tomado e perdido, logo em seguida, a cidade de al-Jawsh.
No último domingo, a rede Globo de televisão – cuja cobertura na Líbia tem se limitado a reproduzir as agências internacionais – mostrou imagens que um líbio radicado no Brasil, vivendo na cidade de Goiânia, fez em visita à Benghazi. Ele afirmou que esteve na cidade visitando familiares e acabou testemunhando o “momento exato em que os conflitos começaram”.
No entanto, apesar da narração em off que procura descrever os “horrores da guerra na Líbia”, nenhuma das imagens mostra de fato qualquer ataque direto das tropas de Gaddafi contra os rebeldes. Não há imagens, pelo menos nessas que foram mostradas no programa “Fantástico”, de soldados líbios atacando, atirando ou batendo em cidadãos. Em sua maioria, aparecem homens correndo, gritando e atirando para cima com pesadas armas instaladas em caminhonetes como se pode ver nas imagens da própria reportagem.
A narração em off das imagens é tendenciosa, como sempre fizeram com a questão Palestina, com a guerra no Afeganistão, com a invasão do Iraque e suas “armas de destruição em massa” que jamais existiram. Observem a cena em que a repórter narra que um “soldado líbio obriga um rebelde a gritar o nome de Gaddafi e depois ouvem-se tiros”. Onde está o soldado, ele é o que segura a câmera?
As cenas podem realmente ser de conflitos diretos entre rebeldes e tropas de Gaddafi (ainda que os soldados líbios não apareçam em nenhum momento, exceto quando filmados caminhando nas ruas de Misrata), mas também podem ser de conflitos entre as próprias tribos rebeldes, ou entre rebeldes e cidadãos que são contra as atrocidades que vem ocorrendo em Benghazi.
O cidadão líbio que cedeu as imagens afirmou que o “povo líbio vive na pobreza”, o mesmo povo líbio que possui a maior renda per capita de todo o continente africano, dados confirmados por organizações internacionais, inclusive a ONU. Os motivos podem ser legítimos, mas com certeza não são esses.
Vai ficando cada vez mais claro o erro da mídia ocidental e dos países que escolheram um dos lados dessa guerra. A história humana vem mostrando que isso sempre dá errado.
Relatório recente da Anistia Internacional afirmou não ter encontrado evidências das acusações que constam no Tribunal Penal Internacional contra a Líbia e Muammar Gaddafi. Pior, a mesma Anistia Internacional afirmou que encontrou evidencias de que os rebeldes em Benghazi estavam matando seus compatriotas quando estes não aderiam à guerra. Famílias denunciaram os abusos aos repórteres estrangeiros hospedados nos luxuosos hotéis oferecidos à imprensa para a cobertura da guerra na Líbia, mas sobre isso, a mídia se calou.
O jornalismo e os jornalistas acreditam que não têm culpa alguma nisso tudo, mas é bom começarem a assumir sua cota de responsabilidade agora que muitas cortinas estão se levantando.

Juliana Medeiros
Com informações da Al Jazeera, RussiaToday, Mathaba e agências

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Khaddafi convocou seus seguidores para libertar Benghazi dos "traidores"




O líder líbio fez referência a NATO, que ele descreveu como "cruzados", que serão vencidos porque "fazem uma guerra injusta". Por Luis Chirino
"A hora da batalha soou, preparem-se para marchar sobre Benghazi e Misrata (a 200 quilômetros a leste de Tripoli), e sobre as montanhas do oeste",expressou a mais alta autoridade do país em uma mensagem transmitida por alto-falantes para seus adeptos em Al Ejelat, no leste da capital do país.
Khaddafi disse que seu "povo é o mais forte porque defende sua dignidade, sua honra e sua terra.”.
Ele também se referiu à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que ele descreveu como "cruzados", que serão derrotados porque "fazem uma guerra injusta".
"Estamos aqui e vamos ficar nesta terra. Permanecerei junto ao meu povo até a última gota do meu sangue”, disse ele.
O discurso de Khaddafi veio depois que o Exército líbio manteve duros combates contra os separatistas mercenários na cidade de Al Asaabaa, cidade a 80 quilômetros ao sul de Trípoli.
Segundo a imprensa, os opositores armados foram expulsos da área.
Sobre a situação em Benghazi, a organização Human Rights Watch (HRW) informou nesta quarta-feira que os separatistas são responsáveis por incêndios, saques e abusos contra a população civil.
A HRW disse que os atos violentos ocorreram durante o mês de junho e até a semana passada, quando os separatistas atacaram uma região montanhosa ao sul de Trípoli.
"Em quatro aldeias os combatentes rebeldes e seus partidários saquearam casas, hospitais e lojas", disse a organização internacional. Ela também disse que um comandante rebelde, identificado como Al Mukhtar Firnana, admitiu que haviam sido cometidas essas violações e que os responsáveis por esses atos foram punidos.
Fonte: http://www.mathaba.net/news/latina

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Rebeldes líbios reconhecem derrota e dizem que aceitam Kadafi




O tradicional Wall Street Journal, de propriedade do judeu sionista Rupert Murdoch (denunciado na Inglaterra por chantagem, escutas ilegais e sabotagens), acaba de publicar entrevista com uma das lideranças dos rebeldes líbios, Mustafa Abdel Jalil. Ele afirma que os rebeldes líbios voltaram atrás em suas recentes declarações à imprensa, e já admitem a presença do líder Muamar Kadafi na Líbia para a assinatura de um cessar fogo na guerra imperialistas que já dura cinco meses.
O Wall Street Journal, a exemplo da maioria da mídia ocidental, induz os leitores ao erro ao considerar uma sucessão de ataques aéreos terroristas por parte da OTAN à população civil líbia como uma “guerra civil”.
Nos últimos cinco meses de ataques criminosos as forças ocidentais invasoras, os novos cruzados, tentaram criar uma guerra civil na Líbia para justificar uma invasão ou ataques aéreos terroristas, avalizados pelas Nações Unidas – que sempre se colocou a serviço dos interesses imperialistas das potências ocidentais. Mas a realidade dos fatos provou que o povo árabe líbio não tem interesse em uma guerra civil, e muito menos em permitir a divisão do país para favorecer grupos criminosos chamados de “rebeldes” pelas potências agressoras, como este liderado por Mustafa Abdel Jalil, regiamente financiado por dinheiro do governo líbio, roubado de bancos europeus e norte-americanos pelas potências estrangeiras..
Segundo Mustafa Abdel Jalil, caberia à liderança rebelde decidir em que lugar da Líbia e sob quais condições a família Kaddafi deveria permanecer. A afirmação parece uma piada, e só encontra eco nas páginas do jornal norte-americano que não passa de um panfleto do Pentágono.
O líder Muamar Kadafi liderou o povo árabe líbio na Revoluação Al Fateh (há 41 anos), no ataque norte-americano à Líbia em 1986 e nos dias atuais. Em todas essas guerras Kadafi venceu os inimigos do povo árabe líbio e construiu uma nação soberana, forte e independente. Portanto, quem tem que sair da Líbia não é Kadafi, mas as forças militares estrangeiras que só fazem bombardear civis indefesos diante do silêncio cúmplice da maioria dos governos e da ONU.
Até agora, os rebeldes insistiam que Kadafi deveria partir para o exílio, mas diante dos fatos concretos, são obrigados a recuar em seus propósitos e declarações à imprensa, que sempre soam como mentiras a serviço dos assassinos do povo líbio.

Rússia e China pedem o fim dos ataques à Líbia

O governo da China acusou o Ocidente de matar civis na Líbia por meio dos ataques aéreos autorizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pediu um cessar-fogo imediato no país do norte da África. "O propósito da resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU é proteger a segurança dos civis, mas as ações militares tomadas por certos países relevantes estão causando mortes civis", disse Jiang Yu, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. "Nós nos opomos ao uso da força, que poderia resultar em mais mortes civis e em uma maior crise humanitária."
A Rússia pede o fim do "uso indiscriminado da força" pela coalizão que realiza operações militares na Líbia, informou o chanceler russo num comunicado divulgado neste domingo. "Nós pedimos que os Estados interrompam o uso indiscriminado da força", disse em comunicado.
Os ataques aéreos na Líbia incluíram alvos não-militares, segundo o ministro, e danificaram rodovias, pontes, igrejas, escolas e hospitais. "Consideramos inadmissível o uso da Resolução 1973 para fins que claramente ultrapassam seu escopo, que estipula apenas medidas para proteger a população civil", informou.
No sábado, Moscou afirmou "lamentar" a intervenção na Líbia, que "foi adotada de forma precipitada". A mídia russa também citou fontes do Kremlin, segundo as quais o embaixador da Rússia em Típoli foi demitido, sem citar as razões.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Plano dos EUA de cessar-fogo na Líbia tenta excluir Kadafi




Um enviado especial da Organização das Nações Unidas vai propor um cessar-fogo na Líbia, a ser seguido pela criação imediata de uma autoridade provisória composta em partes iguais pelo governo e pelos rebeldes, mas excluindo Muamar Kadafi e seus filhos, segundo um diplomata europeu de alto escalão.
Essa autoridade provisória nomearia um presidente, controlaria a polícia, as Forças Armadas e os serviços de segurança, e supervisionaria um processo de reconciliação, levando à eleição para uma assembleia nacional constituinte, disse o diplomata, que pediu para que seu nome e sua localização não fossem divulgados.
Geralmente quando o Pentágono distribui notícias vergonhosas na mídia subserviente, utiliza deste subterfúgio, de atribuir declarações a personagens fictícias.
A pedido do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o senador jordaniano Abdul Elah al Khatib está buscando uma solução para a guerra de agressão à Líbia, criada pela própria ONU a serviço dos interesses imperialistas dos EUA, França e Inglaterra. Ele já se reuniu várias vezes com o governo e com os rebeldes do leste do país. Os chamados “rebeldes” não passam de grupos criminosos a serviço das potências imperialistas, criados e armados por países estrangeiros para facilitar o roubo de petróleo líbio.
Khatib não quis revelar detalhes das suas propostas, mas disse à Reuters em Amã que "a ONU está exercendo seriíssimos esforços para criar um processo político que tenha dois pilares - um é um acordo para um cessar-fogo, e simultaneamente um acordo para estabelecer um mecanismo que gerencie o período de transição."
"Esperamos que a obtenção da aceitação das duas partes em torno dessa ideia desencadeie um processo político que no final, tomara, nos permita alcançar uma solução política para a crise", disse o enviado da ONU.
Na quinta-feirao líder Kadafi rejeitou a hipótese de negociar com os rebeldes, porque são apenas mercenários a serviço de de governos ocidentais.
O diplomata europeu disse que, pela proposta de Khatib, Kadafi teria de renunciar, mas que isso seria parte do processo, e não uma pré-condição. Quando a autoridade provisória fosse criada e Kadafi deixasse de controlar as forças de segurança, os líbios de Trípoli não teriam mais medo dele, e a essa altura seu regime estaria na prática encerrado, argumentou o diplomata. A argumentação é falsa e canalha porque tenta atribuir a Kadafi a culpa pela guerra imperialista, quando, na verdade, foram os governos estrangeiros que armaram mercenários a passaram a bombardear as cidades líbias de forma criminosa.
Khatib, fantoche do imperialismo, acrescentou que Kadafi só aceitaria essa transição se tivesse garantias quanto ao seu futuro, então ele não seria imediatamente entregue ao Tribunal Penal Internacional, de Haia, que emitiu um mandado de prisão contra ele por crimes contra a humanidade. Esse Tribunal Penal Internacional é mais uma farsados governos ocidentais para manipular a justiça e atacar os inimigos do imperialismo e do sionismo. Não passa de um circo armado para fazer serviço sujo a serviço dos verdadeiros criminosos da humanidade: as potências que fazem guerra para roubar riquezas naturais dos pequenos países.
O povo árabe líbio já deu sua resposta honrosa aos criminosos terroristas de Estado que atacam a Líbia diariamente utilizando a OTAN. Apesar dos bombardeios diários contra a população civil indefesa, durante mais de 120 dias, o povo líbio está unido em torno do líder Muamar Kadafi, e assim como na Revolução Al Fateh, há 41 anos Kadafi comandou o povo líbio na luta contra as potências imperialistas que ocupavam a Líbia, mais uma vez os líbios serão vitoriosos e expulsarão de suas terras os inimigos estrangeiros invasores.
O povo árabe líbio, sob o comando do líder Muamar Kadafi, enfrenta – e vence – a maior força militar do planeta, demonstrando a todos os povos do mundo que é possível derrotar as potências imperialistas quando existe união do povo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Drone-lândia: a ditadura dos aviões-robôs




“É proibido bombardear, por quaisquer meios, cidades, vilas,
abrigos ou prédios não defendidos” (1907, IV Convenção de Haia).


Há nos atlas um novo continente: a Drone-lândia. As fronteiras da Drone-lândia vão da Líbia à Somália, Iêmen, Afeganistão, Paquistão. Os aviões-robôs tripulados a distância modelos Reaper e Predator cruzam o ar, comandados por jovens instalados no conforto de bases muito distantes da guerra. Colar que orna o poder dos EUA, essas bases envolvem todo o mundo num silencioso abraço. A New America Foundation estima que só nos ataques por aviões-robôs drones tripulados a distância, já morreram entre 1.600 e 2.500 civis, em números redondos, desde 2004.

Ano passado, o investigador da ONU para eventos ilegais com vítimas fatais, Philip Alston, observou que, para muitos especialistas, os ataques com aviões-robôs tripulados a distância são ilegais. A organização Reprieve, baseada na Grã-Bretanha, trabalha para obter mandado internacional de prisão contra John Rizzo, conselheiro geral da CIA, o qual disse em fevereiro à revista Newsweek que aprovara, no mínimo, um ataque por aviões-robôs por mês[1]. Será um pequeno terremoto na Drone-lândia, se o processo não for engavetado em algum canto dos escritórios sombrios da Scotland Yard.

Em 1922, o governador das Províncias do Noroeste do Império Britânico [orig. British Empire’s Northwest Provinces] (aproximadamente o que hoje se conhece como Paquistão e o sul do Afeganistão), Sir John Maffrey pensou em voz alta sobre os bombardeios contra civis: “Quais são as regras desse tipo de críquete?”

Seus superiores em Delhi responderam que a lei internacional não se aplicava “no caso de tribos selvagens que não se pautam pelos códigos da guerra civilizada”. Não seria prudente alertar selvagens e, em todos os casos, melhor usar sempre força máxima. A ferocidade quebraria a moral dos selvagens. E nenhuma cordialidade com as mulheres, Mulheres afegãs, diziam os quartéis-generais imperiais, são tratadas “como propriedade, alguma coisa entre um rifle e uma vaca”.

Oficial do Comando dos Serviços Aéreos na Índia, Philip Game escreveu noutro despacho: “Espero que, em pouco tempo, se usarmos a força aérea com sabedoria e humanidade, acabarão os protestos atuais e a força aérea passará a ser vista como arma normal e adequada para impor as justas exigências de nosso governo” (18/10/1923). A esperança de Games realmente se concretizou. Exceto os advogados do grupo Reprieve e as famílias dos assassinados em ataques de aviões-robôsdrones tripulados a distância, poucos se horrorizam com a criação da Drone-lândia.

O Projeto Prioridades Nacionais [orig. National Priorities Project, NPP, http://nationalpriorities.org/), em Northampton, Massachusetts, informa que o governo dos EUA já gastou com a guerra 7,6 trilhões de dólares, desde 11/9. O NPP tem a decência de somar o orçamento-base do Pentágono, o orçamento nuclear, o orçamento da Segurança Nacional e o custo das guerras do Iraque e do Afeganistão (só as duas custaram 1,26 trilhões de dólares). É número espantoso.

Essa foi a opinião da antes sempre indecisa e acovardada Conferência dos Prefeitos dos EUA [orig. U. S. Conference of Mayors em http://www.usmayors.org/].

Dessa vez, os prefeitos adotaram a linguagem dos ativistas, falando dos “dólares de guerra”, e exigiram que o Congresso dos EUA “traga de volta para os EUA esses dólares de guerra, onde são necessários para atender necessidades humanas vitais, criar empregos, reconstruir nossa infraestrutura, ajudar governos municipais e estaduais, e desenvolver uma nova economia baseada em energia renovável e sustentável”. O argumento econômico usado a favor do fim das guerras já penetrou a fortaleza dos discursos dominantes. Quem criticou os “dólares de guerra” foi o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, presidente da Conferência dos Prefeitos, que de modo algum poderia ser descrito como progressista.

Mas os prefeitos não protestaram contra a Drone-lândia nem falaram dos bombardeios aéreos contra populações civis. Tampouco disseram coisa alguma sobre a lei internacional e sua subserviência aos interesses da “comunidade internacional” – sinônimo de “estados reunidos no G-7”.

Silenciosas por tempo já longo demais, as legiões antiguerra estão começando a reagrupar-se. Ao longo dos anos Bush (só oito, mas pareceram eternos!), foi fácil para os liberais englobar os radicais: Bush era como um ímã de todas as críticas. Era fácil desprezar Bush. As manifestações antiguerra sempre foram consideráveis (dia 15/2/2003, um milhão de norte-americanos participaram de manifestações em todo o país). Mas o movimento era instável.

Parte do movimento opunha-se ao militarismo, quando não, diretamente, ao imperialismo. Nessa ala reuniam-se todos os partidos do centro à esquerda, as organizações pró-paz e, também, muitos religiosos fundamentalistas Quakers, Bruderhofs, além de muitos budistas.

Outra parte do movimento não se opunha a todas as guerras, mas só às guerras irracionais, nas palavras do então senador Barack Obama em 2002: “guerras burras, mal pensadas, irracionais”, quer dizer: eles só eram contra uma guerra: a guerra do Iraque. Para essa ala do movimento, a Guerra do Iraque seria uma “distração”; queriam que o presidente Bush dedicasse integral atenção só à Guerra contra o Terror e contra ao Afeganistão.

O único traço que aproximava essas duas alas do movimento antiguerra nos EUA durante os anos Bush foi a antipatia contra Bush e contra a Guerra do Iraque. Dessa energia produziu-se a onda de fevereiro de 2003.

Com a eleição de Obama, desapareceu a base (Bush) da unidade do movimento antiguerra. Os liberais investiram todas as suas esperanças em Obama e, apesar das duras decepções pelas quais têm passado, continuam a crer firmemente que o governo Obama está tentando, contra todas as dificuldades (Republicanos), focar toda a sua atenção bélica no Afeganistão e, afinal, sair do Iraque. A morte de Bin Laden, aos olhos dessa parte do movimento, seria prova definitiva de que Obama é o melhor burocrata pró-guerra não-burras, não-irracionais, com que os liberais poderiam sonhar.

É pouco provável que a ala liberal do movimento contra a guerra do Iraque volte a reunir-se para protestar contra Obama que, agora, parece estar completamente focado, dedicado empenhadamente em expandir a guerra por toda a Drone-lândia.

Essa parece ser a explicação para o grande silêncio do movimento antiguerra nos EUA ao longo dos últimos anos, justamente quando os EUA mais expandiram suas guerras – , só para descobrir que, na Primavera Árabe, estavam do lado errado do jogo (tentando boicotar a revolução egípcia; tentando e conseguindo reprimir o levante no Bahrain; e empurrando a luta líbia cada dia mais na direção de mais uma guerra). Os grupos que tanto falaram contra a guerra do Iraque, agora, se mantiveram em silêncio.

Mas frações daquela coalizão anterior continuam a fazer-se ouvir. Os EUA seríamos nação cúmplice, não fosse a magnífica militância das Code Pink[2], seja nas audiências esvaziadas no Congresso ou pelas ruas das cidades nos EUA; e o recém criado Comitê Nacional Unido Antiguerra [ing. United National Anti-War Committee (UNAC)[3]].

[Imagem em http://www.newsds.org/2011/4/13/april-9th-2011-unac-anti-war-protest-nyc]

Em julho de 2010, cerca de 800 ativistas de 12 diferentes organizações reuniram-se em Albany, New York, para inaugurar o UNAC e divulgar um manifesto guarda-chuva contra tudo que veem de ruim nas políticas militaristas (do desperdício de dinheiro público, à prisão de Bradley Manning).

Dia 19/4/2011, o UNAC coordenou grande manifestação em New York, contra o estado militarista e em defesa dos muçulmanos. O movimento antiguerra nos EUA parece estar saindo da hibernação.

O UNAC já anunciou que passa a trabalhar agora em torno de dois princípios intrinsecamente relacionados: anti-imperialismo e anti-islamofobia.

Anti-imperialismo: A guerra e os dólares da guerra, nos EUA não são eventos irracionais, acidentais, como a Conferência dos Prefeitos sugeriu. A base industrial arrasada e um setor financeiro elefantino destroem a possibilidade de criarem-se empregos e de oferecer assistência social aos mais pobres. Essa combinação de poder financeiro e declínio da indústria é sinal de que o tempo de poder de uma civilização aproxima-se do fim. É “sinal de outono”, como escreveu o historiador Ferdinand Braudel[4]. São sinais que já se viram antes em Gênova, na Holanda e no Reino Unido (como Giovanni Arrighi documenta em O longo século XX[5]).

Quando apareceram claramente os sinais de que o outono do Reino Unido batia à porta, em torno de 1925, Winston Churchill proclamou: “Prefiro finanças menos orgulhosas e indústria mais satisfeita”. Poucos meses depois dessa declaração, os EUA ultrapassaram o Reino Unido como economia maior e mais importante do mundo.

Agora, o FMI acaba de declarar que a China ultrapassará os EUA, à altura de 2016. Braudel e Arrighi argumentam que, no tempo do outono, as potências declinantes recorrem à força, tentando evitar o inevitável. Além dessa possibilidade cíclica, os EUA desenvolveram economia distorcida, com a indústria da guerra no centro do desenvolvimento industrial e contando com o poder militar para assegurar a primazia do dólar. A guerra é fator decisivamente importante nos sonhos absurdos do “Século Norte-americano”.

Movimento antiguerra, hoje, terá de ver esse processo e argumentar por muito mais do que o fim de uma ou outra guerra. A tarefa histórica do movimento antiguerra, hoje, é confrontar a base das guerras dos EUA, a própria economia da guerra imperialista que ameaça todo o planeta dos muitos, para preservar a riqueza e a vaidade dos poucos.

Anti-islamofobia: Na manifestação do dia 9/4 em New York, líderes da Coalizão de Muçulmanos pela Paz e dos 100 Imãs pela Paz trouxeram curta e eficaz mensagem ainti-imperialista e lembraram que as guerras dos aviões-robôs na Drone-lândia havia feito aumentar os ataques contra muçulmanos e contra que ‘pareça’ muçulmano nos EUA.

O Imã Abdul Malik Mujahid (de Chicago) espera ainda ver “EUA que não bombardeiem os mais pobres dos pobres, a serviço dos mais ricos dos ricos”. Para o Imã de Chicago, guerra, terrorismo e islamofobia são “um mal só, de três caras”.

Novo estudo do Center for Human Rights e de Global Justice demonstra que o governo dos EUA usou sistematicamente informantes pagos e não treinados para semear o medo entre os muçulmanos que vivem nos EUA (Targeted and Entrapped: Manufacturing the ‘Homegrown Threat’ in the United States, 2011 [No alvo e na armadilha: fabricando a ‘Ameaça Interna’], em http://www.chrgj.org/projects/docs/targetedandentrapped.pdf ).

Preparando-se para tempos de ativa islamofobia, no 10º aniversário do 11/9, os cidadãos de Teaneck, NJ., aprovaram lei municipal antipreconceito, como parte da campanha “An America for All of US” [América para Todos Nós] organizada pelo grupo Líderes Americanos-sul-asiáticos Unidos [South Asian Americans Leading Together, SAALT]. Outras cidades ecoarão essa experiência.

Deve-se dizer a crédito do UNAC que o movimento não prevê que a luta contra a islamofobia venha a dividir o movimento nem que seja menos importante que a luta contra a guerra que, para alguns, seria a principal questão. Como disse o Imã Mujahid, os EUA temos de nos unir “contra a guerra em casa e longe de casa”.

Estamos às vésperas de eleições. Os progressistas ouvirão muitas vezes aquela velha pergunta: você apoiará Obama para não dividir a “esquerda”, ou votará a favor de algum partido pequeno e, assim, entregará a eleição à “direita”? Essa pergunta nada esclarece. É perda de tempo.

A “direita” é partido de doidos. E a postura ‘antiguerra’ de Obama é menos ridícula que os delírios demagógicos de Mitt Romney. Mas eleições dividem. Agora, não temos de pensar em eleições nem podemos desperdiçar nisso nossas energias.

O campo da luta antiguerra tem de cuidar, só, de fortalecer nossa organização para acumular forças para fazer frente contra grupamentos políticos que, Republicanos e Democratas, hoje, são ambos quase integralmente devotados à guerra. Nada justifica desperdiçar energia nesse debate desgastado.

O melhor que temos a fazer é mobilizar nosso tempo e nossos recursos e construir uma frente ampla, como a UNAC, que consiga mais unir que dividir. Só assim conseguiremos fazer frente a políticos profissionais incapazes de ler as entrelinhas que, por todos os lados nos EUA gritam que o “Século Americano” está acabado.


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NOTAS

[1] Ver 16/7/2011, “A guerra ilegal dos aviões-robôs tripulados a distância”, em http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/07/guerra-ilegal-dos-avioes-robos.html [NTs].
[2] Code Pink: Mulheres pela Paz, em http://www.codepinkalert.org/article.php?list=type&type=3.
[3] Página em https://nationalpeaceconference.org/Home_Page.php
[4] BRAUDEL, Ferdinand. O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
[5] ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX. Unesp: São Paulo, 2006.

sábado, 16 de julho de 2011

Líbia: 105 crianças sequestradas de orfanato em Misrata



O mundo está silencioso enquanto crianças líbias são sequestradas e desaparecem no
exterior para destino desconhecido


TRIPOLI (mathaba) - "O ministro de Bem-Estar Social da Líbia, Ibrahim Sharif, informou que 53 meninas e 52 meninos foram sequestrados do Orfanato de Misrata", disse o enviado especial da TeleSUR ao país do norte da África, Rolando Segura, através da sua conta da rede social Twitter.

Agências de notícias internacionais informaram que autoridades líbias lançaram um inquérito para descobrir o que aconteceu com as 105 crianças, que foram sequestradas na sequência de um bombardeio da cidade há algumas semanas, disse o ministro.

"Os órfãos foram sequestrados em Misrata, uma cidade controlada pelos grupos que operam sob o comando de outros países. Eles foram levados para um lugar desconhecido”, disse o ministro Sharif.

Na sua página do tweeter, o repórter da Telesur disse que “várias fontes afirmaram que as 105 crianças foram levadas para fora do país em um navio que poderia ser turco, francês ou italiano”.

A este respeito, o ministro líbio explicou que "algumas testemunhas disseram ter visto as crianças a bordo de um barco turco, enquanto outros falavam de um navio italiano ou francês.
Queremos saber a verdade e esses países são responsáveis pelo destino daquelas crianças, que não são nem soldados, nem gentes armados”.

O funcionário líbio acrescentou que as autoridades locais têm uma lista com os nomes dos menores. De acordo com a repórter Segura, as forças armadas capturaram um homem líbio que reside na Alemanha, que disse ter visto as crianças serem sequestradas.

Um médico com os rebeldes, que foi preso pelas autoridades da Líbia disse que as crianças haviam sido levadas para Itália e França, acrescentou Sharif.

A repórter venezuelana da Telesur observou que o governo líbio tinha dito que as crianças foram vistas pela última vez na TV Al Jazeera.

Após a aprovação da resolução do Conselho de Segurança da ONU que permite a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, potências imperiais têm atacado indiscriminadamente a população e a infraestrutura do país, resultando em mais de 900 mortos e milhares de feridos.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Neocons (novos conservadores) querem guerra e mais guerra






Por Robert Parry
Às vezes, o New York Times e o Washington Post se comportam como dois antigos navios transatlânticos competindo para ver qual vai derrotar o outro em uma competição para se tornar o navio-chefe para o neoconservadorismo americano. Pense em uma corrida transatlântica entre o Titanic e a Lusitânia.
O The Times fomentava nas edições de sexta-feira, empurrando a administração de Obama e a OTAN para acabar com a guerra na Líbia. Os editores do The Times pareciam mais preocupados com a perspectiva de negociações para resolver o conflito sem uma clara vitória militar sobre o coronel Muammar Khaddafi.
"Tem-se falado por todos os lados recentemente sobre um possível acordo político entre os rebeldes e o governo", o The Times desgastou. "Estamos ansiosos para ver o fim dos combates. Mas Washington e a OTAN devem manter-se firmes com os rebeldes e rejeitar qualquer solução que não envolva a saída rápida do coronel Khaddafi e a liberdade real para os líbios".
Para atingir esse resultado desejado, o The Times exigiu a continuação dos ataques aéreos da OTAN contra as forças de Khaddafi e entraram furtivamente com um rápido editorial sobre os repetidos bombardeios em seu “complexo”, em Trípoli. Esses ataques parecem ser tentativas transparentes de assassinato - apesar das negativas da OTAN - mas, até agora, não o acertou, enquanto matou um de seus filhos e três de seus netos.
Na sexta-feira, Khaddafi respondeu aos ataques da OTAN com um aviso de que os seus apoiadores poderiam retaliar com seus próprios ataques dentro da Europa. Mas os escritores de editorial durões do The Times-editorial estavam ansiosos para o falecimento de khaddafi e uma vitória dos rebeldes.
"Washington e seus parceiros também devem ajudar os rebeldes a começarem a construir as instituições políticas e civis que eles irão precisar para sustentar a Líbia pós-Khaddafi de afundar no caos", o The Times escreveu. Em outras palavras, o The Times prevê a presença em longo prazo da OTAN em uma Líbia "livre".
Sonhos dos novos neocons:
O que fica claro a partir de uma leitura regular do The Times e do The Post é que os neocons nunca desistiram de seu grandioso esquema para violentamente refazer o Oriente Médio, de tal forma que a região rica em energia vai se curvar mais para o controle Ocidental e for menos ameaçador para Israel.
Pode-se pensar que a catástrofe gêmea no Afeganistão e no Iraque - custando ao povo americano mais de 6.000 mortos de guerra e provavelmente bem mais de US $ 1 trilhão - poderia ter ensinado aos neocons uma lição sobre os perigos da arrogância imperial. Mas estão sempre livres para outra guerra, precedido por outro retrato caricaturado de algum "tirano" estrangeiro que deve ser eliminado.
Existe um velho ditado que diz que "a primeira vítima da guerra é a verdade." Mas o que acontece na guerra perpétua? Parece que você tem um mundo como o de Orwell de 1984, onde a história passa pela mudança infinita de forma, alguns fatos esquecidos e a narrativa histórica reconstruída para atender às necessidades da propaganda atual.
Nos Estados Unidos, na vanguarda dessa tendência preocupante está o The New York Times e o The Washington Post, dois dos jornais mais prestigiados do país. Especialmente em questões relacionadas ao Oriente Médio, esses jornais têm frequentemente abandonado qualquer pretensão de objetividade jornalística ou de profissionalismo.
Qualquer alegação extrema contra um governante muçulmano de um estado "hostil" não só é tolerada pelo The Post e pelo The Time, mas aparentemente bem-vinda.
Por exemplo, em 1990, após romper com as boas graças de Washington com a invasão do Kuwait, o governante do Iraque Saddam Hussein foi acusado de arrancar bebês de incubadoras e outros atos de maldade; em 2002-03, ele se tornou o louco diabólico que planejou compartilhar armas de destruição em massa com a Al Qaeda e assim, infligir baixas em massa no território dos EUA.
Nessa guerra - ou momentos de paz - quando o povo americano necessitava urgentemente de informações precisas - os editores do The Times e do The Post escalavam uns sobre os outros para entrar no comboio pró-guerra. Desafios por demandas de notícias vieram quase exclusivamente de fora dos grandes canais nacionais dos EUA e assim, receberam uma atenção oportunamente escassa.
Ao invés de mostrar ceticismo, o The Times e o The Post agiram mais como correias transportadoras de notícias.
Por exemplo, durante a corrida de 2002 de George W. Bush pela invasão do Iraque, o The Times fronteou uma história falsa sobre Hussein ter obtido tubos de alumínio para centrífugas nucleares secretas. Para não ficar atrás o The Post dedicou quase toda sua seção editorial para apoiar o discurso desonesto do Secretário de Estado Colin Powell nas Nações Unida, em 2003, justificando a invasão do Iraque.
Após a conquista do Iraque pelos EUA e da não descoberta de arsenais de armas de destruição em massa, o editor da página editorial do The Post, Fred Hiatt, reconheceu que os editoriais do The Post relataram posse de armas de destruição em massa por Saddam Hussein como "fato consumado." Ele então disse alegremente ao revisor de jornalismo do Columbia que "Se isso não for verdade, foi melhor não dizê-lo." [CJR, Março / Abril de 2004].
Você pode ter pensado que tal conduta jornalística ilegal teria resultado na demissão imediata e na humilhação pública de Hiatt. Mas isso seria assumir que as pessoas encarregadas do Washington Post não estavam a bordo, também.
Mais de oito anos após a invasão do Iraque pelos EUA e pela descoberta da fraude das armas de destruição em massa, Hiatt está na mesma posição chave no editorial, ainda no centro da definição da agenda de política externa do Washington, ainda incitando o governo dos EUA para intervir de forma mais agressiva contra os “bandidos” do Oriente Médio, de Khaddafi a Bashar AL-Assad da Síria ao iraniano Mahmud Ahmadinejad.
Para não ficar atrás, o The Times colocou sua seção de opinião sob o controle de Andrew Rosenthal, um neocon, tanto na atitude pessoal como no pedigree. Seu pai era ex-editor executivo do The Times A.M. "Abe" Rosenthal, um ideólogo neoconservador proeminente que tornou o jornal de direita na década de 1980.
O Muro Desmoronado
Apesar do suposto "muro" entre notícias e opiniões, as colunas de notícias do The Times também assumiram uma inclinação decididamente neocon sob o reinado de oito anos do editor executivo Bill Keller, que teve o melhor trabalho do The Times em 2003 depois de entender a questão do problema das armas de destruição em massa do Iraque totalmente errado.
Nos dias inebriantes após o discurso de Colin Powell na ONU, Keller escreveu um artigo para a revista Times intitulado "O Clube Eu-não-Posso-Acreditar-que-sou-um-Falcão" abraçando quase toda a principal mentira contada pela administração de Bush para justificar a guerra. Mas Keller não só escapou de qualquer prestação de contas, ele foi premiado com a vaga de editor executivo, sem dúvida, o trabalho de maior prestígio no jornalismo dos EUA.
Desde então, Keller continuou adotando uma agenda neoconservadora em colunas de notícias, em especial, promovendo propaganda contra "inimigos" muçulmanos.
Quando Keller designou a si mesmo para cobrir a eleição do Irã de 2009, ele co-autorou uma "análise de notícias", que abriu com uma velha piada sobre Ahmadinejad olhando para um espelho e dizendo: "piolhos machos para a direita, piolhos fêmeas para a esquerda," depreciando ambos os seu conservadorismo islâmico e a sua ascensão a partir da rua.
Depois de Ahmadinejad ser reeleito, O The Times, como a maioria das outras organizações de notícias dos EUA, assumiu a causa dos manifestantes contra Ahmadinejad, que foram considerados manifestantes "pró-democracia", embora os analistas mais objetivos concluíssem que Ahmadinejad realmente ganhou a eleição e os manifestantes estavam na verdade interessados em derrubar os resultados válidos.
Embora amplamente ignorado pela grande mídia norte-americana, um estudo realizado pelo Programa sobre Atitudes Políticas Internacionais (PIPA) da Universidade de Maryland encontrou pouca evidência para apoiar as alegações de fraude ou em concluir que a maioria iraniana veja Ahmadinejad como ilegítimo.
PIPA analisou várias pesquisas de opinião pública iraniana de três fontes diferentes, incluindo algumas antes da eleição de 12 de junho de 2009, e algumas de depois. O estudo constatou que em todas as sondagens, a maioria disse que planejava votar em Ahmadinejad ou tinha votado nele. Os números variaram de 52 a 57 por cento pouco antes da eleição para 55 a 66 por cento após a eleição.
"Estas descobertas não provam que não houve irregularidades no processo eleitoral", disse Steven Kull, diretor do PIPA. "Mas eles não apoiam a crença de que a maioria rejeitou Ahmadinejad."
Uma análise dos ex-funcionários da segurança nacional dos EUA Flynt Leverett e Hillary Mann Leverett chegou a uma conclusão similar. Eles descobriram que as “agendas políticas pessoais” de comentaristas americanos colocaram-os do lado manifestantes contra Ahmadinejad. [Ver Consortiumnews.com’s "Como a mídia dos EUA estragou a Eleição do Irã".].
A narrativa duvidosa das eleições "fraudulentas" iranianas se encaixa com a insistência neocon em "mudança de regime" no Irã, que atualmente se encontra perto do topo da lista de inimigos de Israel.
Líderes de opinião neocon, inclusive comentaristas chave para o The Times e o The Post, estimularam repetidamente por uma escalada de operações secretas dos EUA para desestabilizar o governo do Irã, se não por uma junta de ataque militar de Israel e EUA contra instalações nucleares e militares iranianas.
A Guerra da Líbia
Similarmente, os editorialistas do The Times e do The Post têm estado na vanguarda exigindo mudança de regime na Líbia, repetidamente, solicitando ao presidente Barack Obama a apoiar iniciativas dos rebeldes anti- Khaddafi com aviões de ataque de combate de perto, para derrubar as tropas líbias.
Estas opiniões também se espalharam por uma cobertura tendenciosa nas colunas de notícias. Ambos os jornais trataram do suposto papel da Líbia em derrubar o avião Pan Am 103 sobre Lockerbie, Escócia, em 1988, como um outro "fato consumado" quando há uma grande dúvida entre muitas pessoas que seguiram o caso que a Líbia tenha tido alguma coisa a haver com o ataque terrorista.
É verdade que um tribunal especial escocês, em 2001, condenou o agente líbio Ali [Abdelbaset] al-Megrahi pelo ataque, enquanto absolveu um segundo líbio - mas o caso contra Megrahi estava desmoronando em 2009, antes ele foi libertado por razões humanitárias, porque tinha sido diagnosticado com câncer terminal de próstata.
Em retrospecto, o veredito do tribunal em 2001 parece ter sido mais um compromisso político do que um ato de justiça. Um dos juízes informou ao governo de Dartmouth o professor Dirk Vandewalle sobre "a enorme pressão colocada sobre o tribunal para obter uma condenação”.
Após o testemunho chave ser desacreditado, a Comissão Escocesa de Avaliação de Casos Criminais concordou em 2007 em reconsiderar a condenação de Megrahi por uma grande preocupação de que era um erro judiciário. No entanto, sob mais pressão política, o processo de revisão foi prosseguindo lentamente em 2009, quando autoridades escocesas concordaram em libertar Megrahi por razões médicas.
Megrahi desistiu de apelar, a fim de ganhar uma libertação antecipada em face do diagnóstico de câncer, mas isso não significa que ele era culpado. Ele continuou a afirmar sua inocência e uma imprensa objetiva refletiria sobre as sérias dúvidas sobre sua condenação.
Contudo, as colunas de notícia do The Times continuam a tratar a culpa da Líbia no caso Lockerbie como um fato indiscutível.
No entanto, é uma aposta segura que, se você insere-se o nome de um aliado Americano no lugar da Líbia, o The Times teria relegado a condenação de Megrahi para o hospício de teorias de conspiração ou, pelo menos, preso na categoria de grave erro judicial.
Mas, ao que parece, o povo americano deve estar sempre preparado com razões para justificar o uso de força militar dos EUA para corrigir algum mal observado e acabar com alguns “bandidos”.
Enquanto não há dúvida de que existem plenas razões para desaprovar vários "homens fortes" no Oriente Médio e em outros lugares ao redor do mundo, a ultraje seletiva é a essência da propaganda eficaz. Colocar um holofote desagradável sobre uma pessoa ou um país - enquanto deixando situações semelhantes em outras partes no escuro - permite o aumento ou a diminuição da raiva e das tensões.
Em uma democracia saudável, organizações independentes de notícias desempenhariam um papel corretivo, mostrando ceticismo em relação à Linha Oficial e questionando os motivos de Washington, como faria qualquer interessado.
Em vez disso – em grande parte das últimas três décadas ou mais - o The Post, o The Times e outros meios de comunicação dos EUA foram disputando entre si para demonstrar o maior "patriotismo", a mais forte condenação dos “inimigos” da América, e uma notável credulidade em direção à propaganda gerada pelos formuladores de políticas dos EUA e de Israel.
Embora seja verdade que alguns jornalistas norte-americanos têm enfrentado retribuição de carreira para pisar fora da linha oficial, o viés de alto nível da mídia tornou-se tão claro há tanto tempo que se tem de concluir que o The Post, o The Times e muitas outras agências de notícias não estão penas sendo coagidos a servir como veículos de propaganda, mas estão fazendo isso de bom grado.
A conclusão óbvia é que muitos executivos seniores de notícia compartilham a visão de mundo dos neoconservadores, dando assim aos falcões da guerra influência duradoura nos centros de poder de Washington, mesmo quando o presidente no cargo dos EUA, pode não ser um deles.
Para o New York Times e o Washington Post, pode parecer estar jogando de forma inteligente para continuar a competir pelo status de principal publicação neocon. No entanto, como os malfadados transatlânticos- Titanic e Lusitânia – o The Times e o The Post podem estar ignorando outros riscos à sua volta enquanto avançam a todo vapor, comprometendo sua credibilidade jornalística.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Os EUA têm de pôr fim à guerra ilegal contra a Líbia



Dennis Kucinich, o autor, é deputado pelo Partido Democrata dos EUA,
representante do 10º distrito eleitoral de Ohio. Está no oitavo mandato.


Essa semana, apresento projeto de lei ao Congresso dos EUA, que porá fim ao envolvimento militar dos EUA na Líbia, pelas seguintes razões:

Primeiro, porque a guerra contra a Líbia é ilegal pelos termos da Constituição dos EUA e de nossa lei “War Powers Act”, porque só o Congresso dos EUA tem competência para declarar guerra e o presidente não conseguiu demonstrar que a Líbia representasse qualquer risco iminente aos EUA. O presidente ignorou inclusive a opinião de seus principais conselheiros legais no Pentágono e o Departamento de Justiça, que lhe demonstraram que a aprovação pelo Congresso era indispensável antes de os EUA bombardearem a Líbia.

Segundo, porque a guerra chegou a um impasse. Não é guerra que possa ser vencida, sem que a Líbia seja ocupada por terra por soldados da OTAN, o que configurará invasão da Líbia.

Toda a operação foi terrivelmente mal pensada desde o início. A OTAN apóia uma oposição baseada em Benghazi (cidade localizada no nordeste do país, região rica em petróleo), mas não há nenhuma prova de que aquela oposição tenha o apoio da maioria dos líbios.

O grupo de oposição Frente Nacional para a Salvação da Líbia (e que se suspeita que tenha sido apoiado pela CIA nos anos 1980), jamais teria iniciado uma guerra civil contra um governo líbio que sabia que jamais poderia derrotar, se não contasse com o apoio de massiva campanha aérea da OTAN e, agora, dado que isso não bastou, espera contar soldados da OTAN que invadam o país, por terra.

As ações levianas daquela oposição, encorajadas por interesses políticos, militares e da inteligência ocidentais, criaram a grave crise humanitária que, então, passou a ser usada como justificativa para a campanha de guerra da OTAN, contra a Líbia.

Terceiro, os EUA não têm dinheiro para sustentar aquela guerra. O custo da missão, para os EUA, deverá, em breve, superar a casa do 1 bilhão de dólares – e dentro do país enfrentamos cortes brutais nos serviços públicos devidos aos cidadãos norte-americanos.

Não surpreende que a maioria dos Republicanos, Democratas e independentes dessa Casa tenham a mesma opinião: que os EUA não podem continuar envolvidos na guerra da Líbia.

Essa guerra tem destino trágico. Invadir a Líbia seria completar o desastre. A OTAN já está fora de controle e serve-se de uma Resolução da ONU que visaria a proteger civis, como frágil pretexto para prosseguir em missão não autorizada de derrubada de um governo mediante emprego massivo de violência.

Numa palavra, o comandante da OTAN deve ser responsabilizado por inúmeras violações da lei internacional. Na tentativa injustificável de manter a guerra civil, a França, que é membro da OTAN, e o Qatar, aliado da coalizão, já admitiram que enviaram armas à Líbia – o que configura confessada violação do embargo de armas, que a ONU impôs àquele país.

No final, a principal vítima desse jogo entre nações será a legitimidade da ONU, de suas resoluções e mandados, e a lei internacional. Essa situação é insustentável. A proibição de que se forneçam armas à Líbia tem de ser aplicada, não desrespeitada pelos países membros da OTAN.

O apoio ilegal e contraproducente dos EUA a essas ações militares deve cessar imediatamente.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Líbia é o nosso futuro



1 Nenhum homem é uma ilha; a morte de qualquer pessoa me atinge, pregava John Donne. Nenhum país está fora do planeta: o genocídio cometido contra um povo me assassina.
Tudo o que acontece na Líbia me fere, te machuca e nos afeta.

2 Falemos como homens e não como chacais ou monopólios de informação/comunicação. A Líbia não está sendo bombardeada para proteger a sua população civil. Nenhum povo é protegido lançando-lhe explosivos, nem despedaçando-o com 4.300 ataques “humanitários” durante mais de cem dias. A Líbia é incinerada para lhe roubarem seu petróleo, suas reservas internacionais, suas águas subterrâneas. Se o latrocínio triunfa, todo os países com seus recursos serão saqueados.
Não perguntes sobre em quem caem as bombas: cairão sobre ti.

3 “Encarceraram os comunistas; não me importei porque não sou comunista”, ironizava Bertold Brecht. O Conselho de Segurança da ONU aprova uma zona de “exclusão aérea” a favor dos divisionistas líbios, mas permite um bombardeio infernal; a China e a Rússia se abstêm de vetar a medida porque como não são líbios nada poderia importar-lhes menos. De imediato os Estados Unidos ameaçam a China com a declaração de uma “moratória técnica” da sua impagável dívida externa e agridem o Paquistão. A China replica que “toda nova ingerência dos Estados Unidos no Paquistão será interpretada como ato não amistoso” e arma o país islâmico com cinquenta caças JF-17.
Nenhum povo está fora da humanidade: se não proibires a agressão contra outro povo, a desencadeias contra ti e teu povo.

4 Tolstoi contava que um urso ataca dois camponeses: um sobre a uma árvore, cedendo ao outro o privilégio de defender-se só. Este vence e conta que as últimas palavras da fera foram: “Quem te abandona não é teu amigo”. A Liga Árabe, a União Africana, a OPEP trepam a árvore da indecisão esperando a vez de serem esquartejadas.
Ao abandonar as vítimas abandonas a ti mesmo

5 Tal como nos tempos em que o fascismo assaltava a África, hoje a Itália, Alemanha, Inglaterra, França e outros pistoleiros da OTAN sacrificam armamentos e soldados numa guerra que só favorecerá os Estados Unidos. Impedido pelo seu Congresso de investir abertamente fundos no conflito, Obama queixa-se dos seus cúmplices da OTAN porque sacrificam à despesa militar menos de 2% dos seus PIB e ordena-lhes que imolem pelo menos 5% (“El futuro de la OTAN”, Editorial El País, 15/06/2011). São instruções inaplicáveis quando o protesto social, a crise financeira, a dívida pública impagável e o próprio gasto armamentista minam os governos do G-7. Perante tais exigências, a Itália opta por não participar mais dessa súcia criminosa.
A Agência Internacional autoriza a gastar das reservas que não tem 60 milhões de barris de petróleo em dois meses. Os Estados Unidos desbaratam em 2010 uma despesa militar de 698 bilhões de dólares, 43% do total mundial de 1,6 trilhões de dólares (Confirmado.net 17/06/2011). Assim se dilapidam em forma de morte os recursos que deveriam salvar vidas.
Se construíres guerras para devorar o outro, as guerras te devorarão a ti.

6 Como na época de Ali Babá e os quarenta ladrões, os banqueiros internacionais que tão benevolamente receberam 270 bilhões de dólares em depósitos e reservas da Líbia assaltam o butim e estudam trespassá-lo àqueles que tentam assassinar os legítimos donos. Também criam para os monárquicos de Bengazi um banco central e uma divisa própria.
São os mesmos financistas cujo latrocínio custa à humanidade o atual colapso econômico: não perguntes a quem os banqueiros roubam: assaltam a ti.

7 No estilo das blitzkrieg nazis, o presidente dos Estados Unidos inicia guerra sem a autorização dos seus legisladores e prolonga-as ignorando o Congresso, onde dez deputados denunciam o presidente e o secretário da Defesa cessante Robert Gates e vetam os fundos para a agressão contra a Líbia tachando-a de ilegal e inconstitucional.
Não verifiques se deves impor a tiros a democracia a outros povos: acaba antes com os vestígios que restavam dela no seu próprio país.

8 Cada homem é peça do continente, parte do todo, insiste John Donne. Os inimigos do homem não cessam de fragmentá-lo para destruí-lo melhor. Os impérios, que são quebra-cabeças instáveis de peças juntadas à força, no exterior fomentam ou inventam o conflito de civilização contra civilização, o rancor do iraniano contra o curdo, do xiíta contra o sunita, do hindu contra o muçulmano, do sérvio contra o croata, do descendente contra o ascendente, do ancestral contra o menos ancestral, do líbio contra o líbio, do venezuelano contra o venezuelano. De cada variante cultural pretendem fazer um paisinho e de cada paisinho um protetorado. Quem nos separa nos faz em pedaços, quem me divide me mutila.
Não indagues como despedaçam a Líbia: esquartejam a ti.

9 Toda pilhagem arranca com promessa de golpe fácil e atola-se na carnificina insolúvel. As guerras do Afeganistão, Iraque, Líbia, Iêmen e a agressão contra o Paquistão arrancam passeios triunfais, espatifam-se em holocaustos catastróficos e nenhuma conclui, nem se decide. A resistência dos seus povos retarda a imolação da qual não te livrarão, nem vetos omitidos, nem organizações abstencionistas, nem banqueiros cartelizados, nem Congressos olvidados.
Não perguntes por que são assassinados os patriotas líbios: estão morrendo por ti.

Luís Britto Garcia, venezuelano
Traduzido pelo pessoal do Plisnou

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Lula critica o Ocidente em cúpula da União Africana



Uma crítica arrojada da atitude do Ocidente em relação à África e à América Latina feita pelo ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva provocou aplausos de pé na cúpula da União Africana nesta quinta-feira.
Lula censurou em particular as Nações Unidas por não concederem a nenhum país africano ou latino-americano um assento permanente em seu Conselho de Segurança.
"Não é possível que o continente africano, com 53 países, não tenha uma representação (permanente) no Conselho de Segurança", afirmou.
"Não é possível que a América Latina, com seus 400 milhões de habitantes, não tenha uma representação (permanente), que cinco países decidam o que fazer, como fazer, sem levar em consideração o resto dos seres humanos que vivem neste planeta".
Lula se referia aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Grã-Bretanha, China, França, Rússia e Estados Unidos).
O Brasil, uma potência emergente com um aumento progressivo de influência no cenário mundial, luta há muito tempo por um assento permanente no Conselho de 15 membros.
O conflito na Líbia é um foco da cúpula, que teve início nesta quinta-feira na capital da Guiné Equatorial, Malabo, com críticas à ação da Otan e ao envolvimento do Ocidente na crise líbia. Essa agressão à Líbia é a continuidade da política dos países colonialistas e imperialistas que sempre criaram guerras e revoluções na África para roubar as riquezas naturais dos países africanos ao longo dos séculos.
"Precisamos de uma Organização das Nações Unidas que tenha a coragem de impor um cessar-fogo na Líbia" e imponha negociações entre o presidente Muamar Kadhafi e seus opositores rebeldes, disse Lula. "A solução para o conflito na Líbia deve partir dos próprios líbios e não de potências colonialistas estrangeiras", finalizou.
O Brasil foi um dos cinco países que se abstiveram na votação do Conselho de Segurança da ONU em março sobre a Resolução 1973, que autorizou a utilização de "todos os meios necessários" para "proteger os civis das forças de Kadhafi",mas na realidade havia interesse em legitimar um ataque militar à Líbia para os governos dos EUA, França e Inglaterra roubarem o petróleo líbio. A autorização - contrariando todos os preceitos da ONU - se converteu em uma “carta branca” para a Otan bombardear indiscriminadamente a população civil da Líbia – algo que não consta no documento da ONU.

A crise é dos ricos
Lula também acusou o Ocidente de impor injustamente a países pobres, incluindo europeus, medidas de austeridade após uma crise financeira que, segundo ele, teve suas raízes nos Estados Unidos e na Europa.
"A crise veio dos Estados Unidos, de banqueiros americanos, de especulação financeira nos países mais ricos da Europa. E são os países pobres da África, América Latina e Ásia que vão pagar a conta", afirmou.
Agora as "vítimas pagarão o preço por um crime que não cometeram - isso é o que está acontecendo na Grécia", disse.
O Ocidente foi "incapaz de ver uma África que é composta por seres humanos iguais aos do continente europeu", ressaltou, acrescentando que talvez eles pensem que"nós africanos ou latino-americanos sejamos cidadãos de segunda classe ou porque parecemos com nativos".
"Nós queremos apenas ser tratados igualmente e dividir a riqueza que está sendo produzida neste mundo".
Lula pediu um aumento da integração entre nações africanas e emergentes.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul formam o grupo dos BRICS, que aparece como uma possível contra-força em assuntos internacionais em relação aos países do Ocidente.