quarta-feira, 7 de março de 2012

Militares franceses na Síria


A história que se segue é uma teia de fatos intrincados capaz de enredar ainda mais a campanha de Nicholas Sarkozy para a reeleição como presidente de França e que, ao mesmo tempo, embaraça dirigentes de países da OTAN, hesitantes em relação à estratégia para com a Síria.
A história é secreta. Ou melhor, é diplomaticamente secreta, oficialmente não existe mas não tarda que se torne banal ainda que continue a não ser admitida.
Tudo começou quando em 13 de Fevereiro o exército sírio deu como controlada a rebelião armada no bairro de Bab Amr, na cidade de Homs, de que tanto se tem falado. Esta é a versão do regime de Damasco, embora sejam muitos os indícios de que os focos de resistência estão limitados a dois grupos integrados no chamado Exército Sírio de Libertação, um deles de obediência radical islâmica e outro de mercenários recrutados entre a marginalidade,
agindo ambos com pouca coordenação.
Entre as centenas de estrangeiros capturados pelas tropas sírias no bairro de Homs encontram-se 18 cidadãos franceses, que não hesitaram em identificar-se como militares revelando patentes e unidades a que pertencem para tentarem abrigar-se sob os preceitos das Convenções de Genebra relacionadas com prisioneiros de guerra.
Ora militares franceses integrando grupos armados envolvidos numa guerra civil sabendo-se que o governo francês tem negado qualquer ingerência no conflito é um problema.
Sobretudo para o presidente Sarkozy, que ou defende os seus concidadãos admitindo que se trata de militares, confessando assim a ingerência, ou rejeita essa condição e, passando a tratar-se de civis estrangeiros, as autoridades sírias podem aplicar-lhes penas entre as quais se incluem a de morte. Paris recorre de momento a um meio termo: negociar com Damasco através da Rússia, dos Emirados Árabes Unidos e de Omã, envolvendo também a Liga Árabe, a ONU e o ex-secretário geral Kofi Annan.
Tudo em segredo, acordado pelas duas partes com vantagens mútuas: o regime sírio pode exigir um preço mais alto por um hipotético acordo; e Sarkozy não vai ter, se tudo correr como deseja, de dar explicações em plena campanha eleitoral sobre o que faziam soldados franceses numa guerra onde as autoridades de Paris dizem que não participam.
Explicar-se depois, com o problema já resolvido, é menos traumático, até porque nessa fase já pode montar-se uma patriótica campanha de propaganda sem estragar as negociações.
Numa fase em que a OTAN está à deriva na estratégia a adotar para a Síria, em recuo da possibilidade da intervenção militar depois de a ter admitido seriamente, este episódio aprofunda a confusão militar e diplomática.
Como podem os Estados Unidos, a França e outros aliados proclamar o primado das sanções econômicas sobre a alternativa militar sabendo-se que soldados de países da OTAN já combatiam no terreno, mais uma vez ao lado de operacionais coordenados por radicais islâmicos alinhados pela al-Qaeda e afins? Em que ficamos?

por José Goulão

Fonte: http://jornaldeangola.sapo.ao/19/46/militares_franceses_na_siria

Nenhum comentário:

Postar um comentário