terça-feira, 31 de julho de 2012

Chávez diz que incorporação da Venezuela ao Mercosul vai gerar mais de 240 mil empregos

Renata Giraldi*
Repórter da Agência Brasil

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, já está a caminho de Brasília. Antes de deixar Caracas, no começo da tarde desta segunda (30), ele concedeu uma longa entrevista coletiva. Chávez disse que a incorporação da Venezuela ao Mecosul coloca o país na “perspectiva histórica exata”. Entusiasmado com a oficialização nesta terça (31), em Brasília, do ingresso da Venezuela no bloco, Chávez disse que a incorporação vai gerar 240 mil empregos. Segundo ele, até dezembro será criado um fundo de US$ 500 milhões para conceder empréstimos a empresas públicas e privadas venezuelanas, o que estimulará a produção.
No aeroporto de Caracas, o presidente convidou os empresários venezuelanos para participar da comissão presidencial para entrada do país no Mercosul. O grupo é formado pelos ministros Nicolás Maduro, das Relações Exteriores, Rafael Ramirez, do Petróleo e Mineração, Ricardo Melendez, das Indústrias, Jorge Arreaza, da Ciência, Tecnologia e Inovação, e Edmée Betancourt, do Comércio.
Para Chávez, o Mercosul é a oportunidade para os pequenos e médios produtores exportarem para os países da região. "O Mercado Comum do Sul é bom para a classe média, agricultores, camponeses e trabalhadores em geral, porque os produtos locais podem ser exportados para os países do bloco”, ressaltou.
Criado em 1991, o Mercosul tem o objetivo de reforçar a integração regional e promover parcerias entre o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai (suspenso até abril 2013). No Mercosul, o Chile, o Equador, a Colômbia, o Peru e a Bolívia são países associados. O México e a Nova Zelândia são observadores.

DENUNCIA: Os combates na Síria entre “rebeldes” e tropas do governo que todo mundo vê na TV são gravados no Qatar

En cercanías de Doha se preparan decorados que simulan ser edificios gubernamentales sirios para rodar filmar falsos enfrentamientos.
En las afueras de Doha, la capital de Qatar, se preparan los decorados que imitan plazas y edificios gubernamentales de Damasco, Alepo y Latakia, según denuncia la agencia siria de noticias SANA. La guerra informativa en el conflicto sitio se refuerza cada día y se hace más ’creativa’.
La agencia estatal siria subraya que se trata del segundo intento del Gobierno de Qatar de organizar los rodajes de reportajes falsos, cuyo objetivo es imponer a los telespectadores su propia visión de los acontecimientos en Siria.
Previamente se informó que en varios barrios de Damasco aparecieron rebeldes disfrazados de militares que se hacían pasar por soldados del régimen. “Planeaban cometer crímenes en‪ Damasco y culpar al ejército de ‪Siria”, según agencia estatal SANA. Este jueves se cumple el quinto día de choques en la capital de ese país árabe entre las fuerzas del presidente Bashar Al Assad y los activistas contrarios al régimen.
Fuertes enfrentamientos estallaron cerca de la sede del Gobierno en Damasco después de que rebeldes atacaran a las fuerzas leales al presidente al Assad, que desplegaron vehículos blindados e intensificaron el bloqueo de las carreteras de acceso a la ciudad.
Estos enfrentamientos se producen horas antes de que el Consejo de Seguridad lleve a cabo la votación sobre una resolución de la ONU acerca de la situación en Siria.

Fonte IranNews

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Pacote turístico israelense oferece treino para “matar árabes”

O estado artificial de Israel continua dando demonstrações ao mundo de selvageria e racismo extremado. A novidade promovida por agências de turismo de Israel é um pacote turístico para o assentamento judaico de Gush Etzion, na Cisjordânia ocupada. Pacotes turísticos são oferecidos em anúncios publicados em jornais e revistas israelenses.
O local, com mais de 10 mil metros quadrados, é usado em treinamentos do Exército e da polícia de Israel. O proprietário, o empresário Sharon Gat, contou à imprensa que resolveu aproveitar as instalações já existentes para dar início ao "projeto turístico".
No local os adultos atiram com armas e munição de verdade, em alvos de papelão ilustrados com o esteriótipo de árabes, pessoas usando turbantes. As crianças utilizam armas de paintball. Até o momento mais de 5 mil turistas experimentaram a sensação “turística” de matar árabes.
O preço do curso, de duração de duas horas, é 440 shekels (cerca de R$ 220) para adultos e 200 shekels (R$ 100) para crianças.
O prefeito do assentamento de Gush Etzion, David Perl, afirmou que o novo projeto turístico proporciona "um incentivo a mais" para o turismo na região.
O assentamento é ilegal, fica ao sul de Jerusalém e foi construído em terras do distrito palestino de Belém, "recebe cerca de 400 mil turistas por ano", de acordo com Perl.
Como era de se esperar, a mídia ocidental não divulga e não publica matérias à respeito dessa mais nova invenção do sionismo israelense para disseminar o ódio em adultos e crianças, formando verdadeiros psicopatas para as atuais e futuras gerações.

domingo, 29 de julho de 2012

O Mossad controla a CIA e o M16

Vários serviços secretos ocidentais se encontram dominados, controlados ou infiltrados pela agência de inteligência de Israel, o Mossad, segundo declaração do Chefe do Estado Maior do Irã, Hassan Firouzabadi, citado pela agência de notícias IRNA.
“Atualmente todos os serviços de inteligência dos inimigos do Islã atuam unidos, o que indica que o Mossad estabeleceu controle sobre a CIA dos EUA e o M16 da Inglaterra”, afirmou Firouzabadi.
“Os judeus sionistas planejam ocupar todo o território palestino, incluindo Jerusalém, e colocar ali seu governo, de onde estabeleceriam um controle mundial”, advertiu o líder militar iraniano.
Firouzabadi acusou também o governo dos Estados Unidos da América de financiar e treinar terroristas para usá-los como agentes em países como Síria e Paquistão, levando insegurança e instabilidade para justificar intervenções militares imperialistas, de acordo com declarações de diversos combatentes e mercenários estrangieros que atuam nos países citados, divulgadas na televisão iraniana PressTv.
Nesse contexto, o comandante iraniano convocou as forças progressitas em todo o mundo a discutir de forma forte e sábia um enfoque contra o “inimigo unido e perigoso que possui e domina a maior parte do dinheiro e tecnologias de guerra no mundo”.
EUA,Israel e seus aliados fazem campanhas mentirosas no Ocidente, afirmando que a República Islâmica está enriquecendo urânio para fabricar bomb nuclear. Por isso estão pressionando o Irã por meio de sanções para que abandone seu programa de energia atômica. Entretanto, o governo de Teherã nega essas acusações e reafirma que tem apenas interesses e objetivos pacíficos.
A denúncia do Chefe de Estado Maior do Irã reafirma as denúncias de movimentos progressistas da América Latina, segundo as quais a maioria das agências de informação e policiais dos países latino-americanos contam com agentes da CIA e do Mossad infiltrados. São centenas de policiais e militares regiamente pagos para trair sua nação a serviço dos dominadores do mundo.
Os governos dos EUA e Israel trabalham unidos para construir um governo único no mundo, onde os norte-americanos participam com armas e homens, e os israelenses com o dinheiro do sistema financeiro internacional. E todos os demais povos e nações seriam praticamente escravizados por políticas econômicas que beneficiarão apenas os dominadores, prova disso são as 1.023 bases militares norte-americanas em mais de 58 países em todo o mundo.

Russos vão reagir se sua base na Síria for atacada

O governo da Rússia declarou ontem que responderá à oposição síria caso haja um ataque à base naval russa na cidade de Tartus, no noroeste da Síria. “Se a oposição armada decidir tornar realidade suas ameaças de ataque à base, a Marinha russa dispõe na região de todos os recursos necessários para uma resposta adequada”, disse um porta-voz das Forças Armadas russas à agência Interfax.
A Rússia enviou nos últimos meses à região diversos navios e outras embarcações estão a caminho do Mediterrâneo. O porta-voz disse que o Exército sírio também tomou medidas para aumentar a segurança em torno da base, em reforma pelos russos para que possa acomodar navios de grande porte. Recentemente, o Exército Sírio Livre (ESL) ameaçou lançar um ataque contra o porto de Tartus, que abriga soldados e especialistas russos.
A Rússia vende armas para a Síria. O argumento russo para rechaçar uma intervenção estrangeira no país é não repetir o exemplo da Líbia, onde uma ação da Otan foi decisiva para derrubar o governo Muamar Kadafi e destruir a infraestrutura do país, assassinando mais de 200 mil pessoas.

sábado, 28 de julho de 2012

A IMPRENSA ESTÁ ENCOBRINDO O ESCÂNDALO DO SISTEMA DE SEGURANÇA DAS OLIMPÍADAS

Revelações sobre forros de caixão, planos de evacuação de Londres
Paul Joseph Watson - Infowars.com

O canal de notícias britânico ITV está encobrindo o escândalo do sistema de segurança para as Olimpíadas ao deixar de mencionar as explosivas revelações de ‘Lee Hazledean’, um jornalista disfarçado que infiltrou-se na G4S, a maior empresa de segurança do mundo, e vazou como foram preparados 200.000 forros de caixão para um ataque terrorista que poderia levar à evacuação de Londres.
A reportagem da ITV centra-se em “falhas de segurança” comparativamente inofensivas tais como: treinamento inadequado de empregados e a falha deles para efetuar controle de veículos em quantidade suficiente, na preparação para as Olimpíadas de Londres que começam em 27 de julho.
A reportagem também revela como cães farejadores utilizados para encontrar explosivos nem foram treinados para detecção de bomba. Também destaca como caminhões e caminhonetas pertencentes aos contratados não foram adequadamente vistoriados.
No entanto, a reportagem da ITV omite completamente as revelações mais danosas que sugerem que a segurança das Olimpíadas de Londres está praticamente projetada pra falhar.
Embora Lee Hazledean tenha se aproximado de grandes redes de notícias com sua surpreendente estória, ele foi rejeitado e avisado de que havia um “blecaute” contra essa informação.
Conforme relatamos extensamente ontem, as descobertas de Hazledean podem ser resumidas como segue.
- Hazledean foi capaz de conseguir um emprego como agente de segurança via um simples processo de seleção. Nenhuma verificação de antecedentes foi executada nem referências pessoais foram conferidas.
- Hazledean conseguiu passar com armas, facas e explosivos por detectores de metal e scanners de corpo em inúmeras ocasiões durante exercícios simulados.
- Hazledean foi informado que os detectores de metal e scanners de corpo seriam desativados nos momentos de pico a fim de conduzir as massas de pessoas mais rapidamente para dentro da arena Olimpíca.
- Hazledean também foi informado que 200.000 forros de caixão, que podem envolver quarto corpos cada, foram enviados para Londres como parte dos preparativos para os Jogos.
- Milhares de tropas estrangeiras sob os auspícios das Nações Unidas também foram trazidas para Londres.
- Foram amplamente discutidos planos para uma evacuação de Londres após um terrível ataque terrorista. Os empregados da G4S passaram mais tempo sendo treinados para um plano de evacuação do que em treinamento para fazer inspeções de segurança.
- A equipe de segurança da G4S foi pega traficando drogas durante o treinamento sem receber punição. Os uniformes também foram entregues para pessoal não autorizado assim como uniformes foram roubados. A equipe da G4S também foi flagrada tirando fotografias com seus telefones celulares em locais de segurança.
- Hazledean foi avisado que drones predadores do tipo usado no Afeganistão e no Iêmen estariam circulando em Londres durante as Olimpíadas.
- Hazledean acredita que a equipe de segurança da G4S seja tão precariamente treinada e que a operação de segurança como um todo é tão frouxa que terroristas poderiam muito facilmente encenar um massacre durante os Jogos.
Nenhuma uma única dessas revelações apareceu no noticiário da ITV. Outras redes de notícias como o Canal 4 se recusaram inteiramente a cobrir a estória.

Paul Joseph Watson é o editor e escritor de PrisonPlanet.com. Ele é o autor de Order Out Of Chaos.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tudo pronto para possível atentado nas Olimpíadas de Londres

As Olimpíadas de Londres começam oficialmente hoje com a cerimônia de abertura para às 9 da noite, hora do Reino Unido, com atividades iniciadas pelo toque do maior e mais harmônico sino do mundo - feito especialmente para a cerimônia de abertura.
Londres está cercada e ocupada por dezenas de milhares de tropas, polícia e guardas de segurança privada e equipes na capital e em outras arenas Olímpicas. Mísseis terra-ar localizados nos edifícios de apartamentos contra a vontade de seus ocupantes. Uma embarcação naval está estacionada no Tâmisa e há uma zona de exclusão aérea.
Tudo está pronto para fabricar um ataque terrorista de bandeira falsa para justificar expansões posteriores do estado orwelliano ou mesmo um ataque contra o Irã. Não estou dizendo que alguma dessas coisas vai acontecer, apenas que vale a pena ficar mais vigilante em Londres nas próximas mais de duas semanas e imediatamente após, também. Ficar longe de grandes multidões, nem sempre fácil em Londres, seria uma ideia muito boa.

David Icke

47 millones de estadounidenses viven bajo el umbral de pobreza.

La línea de pobreza en Estados Unidos está en camino de alcanzar una marca no vista desde la década de 1960, según el sondeo realizado por la agencia de noticas estadounidense The Associated Press (AP).
La agencia noticiera publicó el domingo el sondeo de opinión, realizado a más de una decena de economistas, centros de investigación y catedráticos, tanto de izquierda como de derecha, que reveló un amplio consenso: La tasa oficial de pobreza ha aumentado de un 15,1% en 2010 al 15,7% en 2011; un nivel máximo no visto desde casi medio siglo.
AP anunció que las cifras del censo de 2011 serán emitidos este otoño durante las semanas críticas previas a las elecciones presidenciales de noviembre.
Según el director del centro contra la Pobreza, Iniquidad y Política Pública de Georgetown, Peter Edelman, “los temas no solamente tocan los beneficios públicos. Tenemos problemas enraizados en la economía”.
De acuerdo con algunos economistas, en 2011, unos 47 millones de estadounidenses, es decir uno de cada seis, vivieron bajo el umbral de pobreza, mientras este índice nunca había caído por debajo de un mínimo de un 11,1%, como en 1973.
La situación económica en Estados Unidos, va empeorando sin que las autoridades puedan detener este avance, ya que también en estos momentos, importantes urbes como Nueva York, San Diego, San José, San Francisco, Los Ángeles, Cincinnati, Newark y Camden, entre otras, están en peligro de entrar en moratoria.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Brasil: Monsanto en problemas

Carmelo Ruiz Marrero

ALAI AMLATINA - La compañía de biotecnología estadounidense Monsanto, la mayor empresa semillera del mundo, podría acabar teniendo que pagar $7.500 millones a cinco millones de sembradores de soya brasileños que están demandando la compañía por regalías.
Monsanto, una de las corporaciones más detestadas del mundo, se ha convertido en los ojos de muchos en el más fácilmente reconocible símbolo del control corporativo sobre los alimentos y la agricultura. Sus tácticas de mano dura para cobrarle regalías a agricultores por sus semillas patentadas han sido documentadas en las películas Food Inc, y El Mundo Según Monsanto.
A esta corporación, tan acostumbrada a demandar y amedrentar a agricultores, se le ha virado la tortilla en Brasil, donde ahora es demandada por agricultores.
Brasil es el segundo productor a nivel mundial de cultivos transgénicos o genéticamente modificados (GM), superado solamente por Estados Unidos. La vasta mayoría de esta área cultivada consiste de soya que ha sido alterada genéticamente por Monsanto para resistir al herbicida Roundup, producto de la misma compañía.
Brasil exporta la mayor parte de su cosecha de soya a Europa y China para uso como biodiesel o como alimento para ganado. Se estima que el 85% de la soya brasileña es GM. No se sabe la proporción exacta porque la soya de Monsanto fue contrabandeada desde Argentina comenzando en 1998. En 2005 el presidente brasileño Lula, al verse frente a una situación de hechos consumados, legalizó la siembra de soya GM en el país.
Una vez legalizada su soya, Monsanto comenzó a cobrar a los cultivadores brasileños un impuesto de 2% por su producción de soya GM. La compañía también mercadea soya no GM y les requiere a los agricultores mantener ambas variedades estrictamente separadas. Si se encuentra soya transgénica en un cargamento de soya que se supone que no sea GM, se le penaliza al agricultor con un cobro de 3%.
En 2009 un grupo de sindicatos rurales del estado brasileño de Rio Grande do Sul demandaron a Monsanto, acusando que la soya GM y no GM son prácticamente imposibles de separar y que por lo tanto el “impuesto Monsanto” es injusto.
Esta alegación contradice directamente uno de los principales puntos de propaganda de la industria de la biotecnología: que las semillas y plantas transgénicas nunca aparecerán donde no se supone que estén. Esta ocurrencia, conocida como contaminación genética, es negada rotundamente por las compañías. Cuando esto ocurre, lo niegan, pero cuando la evidencia es demasiado contundente como para negarla, le restan importancia o le echan la culpa al agricultor.
“El problema es que segregar la soya GM y convencional es difícil, dado que la soya GM es altamente contaminante”, declaró João Batista da Silveira, presidente del Sindicato Rural de Passo Fundo, uno de los principales demandantes en el caso.
El pasado mes de abril un juez de Rio Grande Do Sul determinó que los cobros de Monsanto son ilegales y notó que la patente de la semilla de soya GM de la compañía estaba expirada en el país. Le ordenó a la empresa a dejar de cobrar regalías y también a devolver todas las regalías cobradas desde 2004- estamos hablando de $2 mil millones.
Monsanto está apelando, pero recibió otro golpe el 12 de junio cuando el Tribunal Supremo de Brasil decidió unánimemente que lo que decida la judicatura de Rio Grande do Sul deberá aplicarse al país entero. Esto sube la suma en cuestión a $7.500 millones. Ahora los agricultores demandantes son cinco millones.
En un terso comunicado, Monsanto declaró que seguirá cobrándole regalías a los sembradores brasileños hasta que termine de resolverse el caso.
En 2008 la revista científica Chemical Research in Toxicology publicó un estudio por el científico francés Gilles-Eric Seralini, especialista en biología molecular y profesor de la Universidad de Caen, que indica que el Roundup es letal para células humanas. Según su investigación, dosis mucho menores que las utilizadas en cultivos de soya provocan muerte celular en solo unas horas.
En 2010 la misma revista publicó un estudio revisado por los pares de la autoría del embriólogo argentino Andrés Carrasco, investigador principal del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet) y director del Laboratorio de Embriología Molecular de la Universidad de Buenos Aires, que determina que el glifosato, ingrediente activo del Roundup, es extremadamente tóxico a embriones de anfibios aún en dosis hasta 1.540 veces menores que las utilizadas en las fumigaciones agrícolas.

- Carmelo Ruiz Marrero es autor, periodista y educador ambiental. Dirige el Proyecto de Bioseguridad de Puerto Rico (http://bioseguridad.blogspot.com/search/label/es). Su cuenta Twitter es @carmeloruiz
Para más información sobre Monsanto: http://bioseguridad.blogspot.com/search/label/Monsanto

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O Irã e o Movimento dos Não-Alinhados

A partir da próxima reunião de Cúpula do Movimento dos Países Não-Alinhados, a realizar-se em Teerã no final de agosto, espera-se uma substancial modificação na atuação deste grupamento que reúne 2/3 dos membros da ONU, certamente com a recuperação das razões principais que levaram ao seu nascimento: um fortalecimento da luta contra as formas de neocolonialismo, a luta pela paz, contra o intervencionismo, em defesa da soberania dos povos, da autodeterminação, da não intervenção e a construção de um sistema econômico mundial mais justo e cooperativo. Tal expectativa se deve em razão de que será o justamente o Irã o presidente dos Não-Alinhados.
Não é difícil entender que uma mudança substancial estará em curso. Para isto basta recordar que o atual presidente dos Não-Alinhados é exatamente o Egito, cujo governo, até Mubarak, mantinha alinhamento-submissão aos interesses dos EUA para região do Oriente Médio, particularmente na proteção dos interesses israelenses , com quem o governo Mubarak mantinha, aliás, um acordo especialíssimo de cooperação política e energética. Tudo isto, já está em questão a partir da revolta das massas egípcias e da eleição do presidente Musri - que já declarou pretender operar uma reorientação política em relação à causa Palestina e também no relacionamento com o Irã – e ganha outra dimensão a partir das novas funções que a nação persa passará a assumir na liderança do Movimento dos Não-Alinhados. com seus 130 países membros.

Mais envergadura
Foi possível constatar a importância do novo cenário que está sendo desenhado na região a partir do que foi discutido na I Conferência Científica Internacional do Movimento dos Não-Alinhados ocorrida em julho deste ano em Teerã, quando as principais lideranças iranianas presentes debateram com cientistas, intelectuais e jornalistas de várias partes do mundo que estiveram presentes a este conclave organizado pelo Ministério da Cultura do Iran.
O Irã prepara-se para uma atuação política internacional com ainda maior envergadura. Se já é um dos polos centrais para estimular a formação de um campo de cooperação econômica de oito países da região, incluindo a Turquia, o Afeganistão e o Paquistão entre outros - motivo de preocupação para os EUA -, se já também toma iniciativas de cooperação econômica com a América Latina, especialmente em projetos de industrialização na Venezuela, Equador, Nicarágua, Bolívia e Cuba, a partir de sua liderança no Movimento dos Não-Alinhados estará em condições articular-se com uma gama enorme e variada de países que integram este movimento, o que frustra as mais reiteradas tentativas imperiais de isolar a nação persa.
O salto é brusco: sob a presidência do Egito, o neocolonialismo impositivo praticado pelas potências capitalistas que autodeclaram democráticas, atuava para neutralizar qualquer ação cooperativa, articulada, solidária do MNA. E justamente quando o campo imperialista eleva a escalada de sanções contra o Irã, visando isolá-lo para que se renda à regra do jogo dos gigantes, os herdeiros da milenar civilização de Persépolis e Pasárgada assumem a presidência do MNA. Ao mesmo tempo em que o patético Ban-Ki-Moon apela ao Irã para que assuma um papel relevante no grupo de negociadores para tentar uma solução para a dolorosa crise na Síria, causada fundamentalmente pela ingerência estrangeira, centralmente dos EUA, Inglaterra e da França, que sob Hollande, ainda não se desvencilhou de muitas políticas de Sarkozy, especialmente no que tange ao imperialismo francês para África e Oriente Médio. E em relação à Síria, tanto o Iran, como a Rússia e a China estão posições ativas contra uma intervenção externa, diferente do ocorrido em outras situações de crise.

Recados
Sob a presidência do Egito de Mubarak era impossível que o MNA tivesse alguma sintonia com os ideais do Marechal Tito, Sukarno , Nasser e Neruh, seus principais inspiradores. Trata-se, portanto, de uma derrota para o império que o Irã assuma tão relevante função e já anuncie, pelas palavras de seus mais representativos dirigentes presentes à Conferência, que caminhará no sentido de um maior protagonismo político internacional. Entre as metas já reveladas, confirmando este protagonismo, estão a busca de uma unidade entre os próprios integrantes do Movimento, o estímulo a uma cooperação econômica e a medidas que conduzam a novas relações internacionais sem submissão aos países imperiais mergulhados em crise. Estes recados foram claramente enviados por Ali Akbar Velayati, o mais importante Conselheiro do aiatolá Ali Kamenei, líder supremo da nação e, anotem, tido como um forte candidato presidencial nas próximas eleições. Akbar também não deixou escapar a oportunidade e manifestou apoio à candidatura do Brasil a uma cadeira como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Aliás, o apoio iraniano ao Brasil deveria estimular uma reflexão no governo Dilma, mas especialmente no PT, sobre o Brasil continuar sendo apenas um pálido observador do Movimento dos Não-Alinhados, quando a política externa traçada no governo Lula visa, também, uma maior cooperação sul-sul. O apoio iraniano veio no mesmo evento em que muitos iranianos me indagavam se tinha havido uma mudança na política do Brasil para o Irã, de Lula para Dilma, face o presidente Ahmadinejad não ter sido recebido em audiência pela mandatária brasileira quando em sua participação na Rio + 20 , no Rio de Janeiro. Lembrei que muitos outros presidentes também não puderam ser recebidos por Dilma, rigorosamente por questões de agenda, e lembrei que as relações comerciais entre Brasil e Irã seguem ampliando-se no atual governo. Mas, obviamente, o Brasil não deve dispensar uma maior prioridade nas suas relações com o governo Ahmadinejad , que destaca sempre ser um amigo de Lula.

Sanções
Tanto o chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, como o Ministro da Economia, referiram-se à conjuntura internacional, à crise dos países capitalistas, à necessidade de um novo sistema internacional e também às sanções de que o Irã é alvo, uma vez mais. O jornalismo econômico iraniano, até ironiza países como a França que participam das sanções, mencionando que Hollande quer anular as oito mil demissões na indústria automobilística francesa, sem se lembrar que é exatamente o Irã um dos maiores compradores de automóveis daquele país. Os líderes iranianos lembram que, na verdade, o País está sob sanções ilegais e prepotentes desde a Revolução Iraniana, de 11 de fevereiro de 1979, quando as reservas internacionais do país, de cerca de 100 bilhões de dólares, foram bloqueadas pelos bancos internacionais, sob o tacão de ferro do império anglo-saxão. Ou seja, não é de hoje.

Salto industrial e tecnológico
De lá para cá, o Irã transformou-se profundamente. Registra um enorme avanço em seu desenvolvimento industrial e tecnológico. Exatamente na semana em que ocorreu esta Conferência, o presidente Ahmadinejad inaugurou uma moderníssima indústria de locomotivas, toda ela com tecnologia própria. Enquanto o Irã avança no transporte ferroviário, com autonomia tecnológica, o Brasil ainda continua sob velha relação, vendendo minério-de-ferro e importando trilhos. Na mesma semana, os persas anunciaram o lançamento de um satélite totalmente fabricado com tecnologia iraniana, com uma novidade: o aparato, pesando 47 quilos, para estar situado a 400 km, pode mudar de orbita a partir de comando terrestre. Esses avanços tecnológicos, logo após a defesa iraniana terassumido o comando de navegação do Drone dos EUA que estava ilegalmente bisbilhotando seu território, fazendo-o baixar no aeroporto escolhido, realmente, deixou os gringos fora de órbita, pois não imaginavam que seu sistema de navegação poderia ser penetrado e, muito menos comandado, pelos espionados.
Vale lembrar que estes saltos tecnológicos ocorrem num país que está sob cerco hostil há 33 anos, que foi submetido a uma guerra de 8 anos com o Iraque, estimulado pelos EUA e que, apesar de tudo, exibe grau de progresso econômico, tecnológico, educacional, social e cultural (o cine iraniano acaba de receber mais um prêmio internacional. O que deveria promover uma reflexão nas forças progressistas internacionais, que também são alvo de uma sofisticada desinformação imperial que demoniza o Irã.

Imperador negro
Aliás, grata surpresa é o jornalismo praticado por duas emissoras internacionais construídas pelo Irã para , legitimamente, defender suas razões históricas : a Hispantv, que transmite em espanhol e começou a operar em sinal aberto no Equador, desde a semana passada, e a Press-TV, emissora que transmite em inglês, que já teve seus escritórios em Londres fechados pelo governo inglês que se autoproclama campeão da liberdade de expressão. Nesta emissora, pude assistir ao vivo o comício de Hezbolah no Líbano, quando o seu líder disse que Israel participa das agressões à Síria e que ainda não se recuperou da derrota sofrida na guerra dos 33 dias, em 2006, quando a resistência armada obrigou as tropas israelenses a retirar-se de território libanês. Num outro documentário, sobre ação dos drones dos EUA na Ásia, uma estatística mostra quantos civis esta macabra engenhoca vem matando por ali, inclusive crianças, indicando que sob o imperador negro Barack “Obomba”, o número de ataques e de mortos multiplicaram-se por quatro, comparando com o troglodita Bush. É da natureza histórica do império matar, destruir, sabotar, qualquer que seja a cor da pele do ocupante da Casa Branca.

Audácia
A grande expectativa se volta agora para que iniciativas o Movimento dos Não-Alinhados, sob a presidência iraniana, poderá adotar. A julgar pelas iniciativas de cooperação econômica na esfera regional, estas não devem ser poucas, apesar da problemática heterogeneidade do MNA. Para que se tenha uma ideia da audácia persa, basta citar que os três países que são alvo direto de operações militares dos EUA na região, Iraque, Afeganistão e Paquistão, apesar da presença militar ianque, estão desenvolvendo fortes relações de comércio e de cooperação com o Irã. Especialmente o Iraque, o que simboliza uma gigantesca derrota estratégica dos EUA. E também explica a continuidade destas macabras explosões quase que diárias neste país, apesar do anúncio da retirada das tropas. Mesmo assim, o que vale ressaltar é a derrota imperial: por aqui, a Venezuela ingressa no Mercosul; lá, o Iraque torna-se importante parceiro comercial do Irã, com quem já havia guerreado antes.

Solidariedade
Como me deram palavra, além de expressar solidariedade aos anfitriões pelas sanções que sofre, sugestões foram apresentadas para que o Irã e o MNA desenvolvam mais e mais esforços de integração e de cooperação com a América Latina. Sugestões que foram reforçadas pelo representante de Cuba nesta Conferência, o experiente jornalista e escritor, Hedelberto Blanch, que lembrou que a região já não está mais sob o controle absoluto dos EUA, que há vários governos progressistas e populares, tendo citado os do Brasil, Venezuela, Equador, Nicarágua, Bolívia, Uruguai, Argentina. Blanch também lembrou que Cuba, como Irã, está permanentemente sob sanções, desde o início da Revolução Cubana, o que não lhe impediu um progresso social imenso e a prática de solidariedade concreta, seja em saúde ou educação, com vários países do mundo, muitos deles integrantes do MNA, que Cuba já presidiu.

Integração
Lembrei ainda que a generosa solidariedade que Cuba presta ao povo do Haiti em saúde conta com a parceria do Brasil que lá instalou equipamentos, estruturas, enviou medicamentos e até médicos militares. Citei que há uma cooperação entre Brasil-Cuba e o Timor Leste para que os estudantes timorenses que se formam em medicina na Ilha, antes de voltarem a Dili, façam uma especialização em medicina tropical na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e que estas modalidades de cooperação poderiam ser ampliadas e enriquecidas com a participação do Irã, país detentor de grande progresso na indústria de medicamentos. Além disso, lembrei que enquanto o Presidente Ahmadinejad estava exatamente naquele dia inaugurando uma indústria de locomotivas, os países do Mercosul, agora fortalecidos com o ingresso da Venezuela e a suspensão do Paraguai, possuem uma infraestrutura de transporte, ferroviária ou hidroviária, bastante precária e insuficiente, devastada pela privatização neoliberal, a mesma ideologia que impõe sanções contra os persas. Citamos ainda a experiência da Unila – Universidade de Integração da América Latina e a Unilab – Universidade da Integração Luso-Africana e Brasileira, duas criações de Lula - o amigo de Ahmadinejad - que garantem ensino gratuito para estudantes latino-americanos e africanos carentes, junto com os brasileiros, numa formação que alavanca técnica e culturalmente a integração, a solidariedade. Estas duas experiências, além da Escola Latinoamericana de Medicina, de Cuba, poderiam servir de exemplos inspiradores e de polos de apoio para criação de iniciativas similares no âmbito do Movimento dos Não-Alinhados.

Nova ordem informativa
Finalmente, toda esta nova etapa de um Movimento dos Não Alinhados sob a presidência persa, marcada por uma esperança viva de que supere os alinhamentos submissos e paralisantes, a serem substituídos por iniciativas concretas de cooperação e solidariedade sem intimidar-se ante as inevitáveis sabotagens imperiais, requer um novo fluxo de informação, sem verticalidade colonial, sem manipulações dos oligopólios da guerra. Assim, junto com muitos delegados, lembramos todos que a Nova Ordem Informativa Internacional, bandeira que os Não-Alinhados defenderam corajosamente no passado, continua sendo uma necessidade inadiável, imprescindível, atualíssima. Para que os MNA sejam parte protagonista de uma mensagem clara à humanidade defesa de um sistema internacional cooperativo, capaz de democratizar a ciência e a tecnologia, e também de fazer a democratização informativo-cultural uma ferramenta civilizatória, humanizadora.

Beto Almeida, jornalista
Participou da I Conferência Científica Internacional do Movimento dos Não Alinhados
Julho 2012


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Síria: ‘Mudança de regime’ e o ‘poder esperto’[1] de Hillary Clinton

M K Bhadrakumar, Asia Times Online

A emergência de Israel, que sai da paisagem de fundo, só pode significar uma coisa: que a crise síria encaminha-se para a fase decisiva. Acenderam-se as luzes no palco de operações, e começou a operação de esculpir a Síria. O que vem por aí não será bonito de ver. O paciente não será anestesiado, e o cirurgião-chefe prefere liderar das coxias, enquanto seus capangas fazem o serviço sujo.
Até agora, Turquia, Arábia Saudita e Qatar fizeram tudo o que podiam para desestabilizar a Síria e remover de lá o regime chefiado pelo presidente Bashar al-Assad. E Bashar continua vivo. Daqui em diante, só a expertise dos israelenses, para completar o serviço.
Alguém terá de enfiar a faca, bem fundo, nas costas de Bashar. O rei da Jordânia não pode fazer o serviço: mal chega aos joelhos de Bashar. Os xeiques sauditas e quataris, flácidos e gorduchos, não são dados a agitação física. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) prefere ser deixada de fora, depois que queimou os dedos na Líbia, em operação limítrofe com crime de guerra. Sobra a Turquia.
Em princípio, a Turquia tem poder muscular, mas intervenção na Síria é missão de altíssimo risco, e uma das heranças mais duradouras de Kemal Ataturk é que a Turquia evite expor-se a riscos. Além do quê, os militares turcos não estão lá em muito boa forma.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan tampouco tem conseguido arrastar a maioria dos turcos na direção de aceitarem fazer guerra contra a Síria. O próprio Erdogan navega águas perigosas, tentando aprovar emendas na Constituição turca que farão dele um verdadeiro sultão – como se o presidente François Hollande da França passasse, de repente, a acumular as funções do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault e de Martine Aubry, presidente do Partido Socialista, além da presidência da França.
Obviamente, Erdogan não porá em risco a própria carreira política. Além do mais, há imponderáveis – uma potencial volta do chicote para dentro da própria Turquia, pela minoria alawita (que ressente o crescimento do salafismo no governo de Erdogan); e o perigo perene de cair numa armadilha armada por militantes curdos.
Al-Jazeera entrevistou um líder alawita na Turquia, semana passada, que manifestou preocupação crescente com o tom cada vez mais sectário da disputa interna na Síria, inspirada por sunitas salafistas. Temem um levante salafista dentro da Turquia. Para os alawitas turcos, Assad “tenta manter coesa uma Síria pluralista e tolerante.”

Planos de contingência
Mas tudo isso se vai tornando irrelevante. Na 6ª-feira, o New York Times noticiava, citando funcionários do governo em Washington, que o presidente Barack Obama dos EUA “está aumentando a ajuda aos rebeldes e redobrando esforços para construir uma coalizão de países com pensamento assemelhado ao dos EUA, para derrubar à força o governo [da Síria]”.[2]
Noticiava também que agentes da CIA que estão no sul da Turquia “já há várias semanas” serão mantidos na missão de criar cada vez mais violência contra o regime sírio. Enquanto isso, EUA e Turquia também estão trabalhando juntos para implantar um “governo provisório pós-Assad” na Síria.
Na mesma direção, líderes da Fraternidade Muçulmana proscrita na Síria organizaram um conclave de quatro dias em Istanbul para criar “um partido islâmico”. “Estamos prontos para a era pós-Assad, temos planos para a economia, as cortes de justiça, a política” – anunciou o porta-voz da Fraternidade Muçulmana.
Diz o New York Times que Washington mantém-se em íntimo contato com Ankara e Telavive, para discutir “uma ampla gama de planos de contingência” sobre “como administrar um colapso do governo sírio”.
O plano operacional que está emergindo prevê que, enquanto Ankara avança nas operações clandestinas dentro da Síria (pagos pela Arábia Saudita e Qatar), Israel cruzará a fronteira, entrando na Síria pelo sul e atacará Bashar militarmente, para degradar sua capacidade de resistir à ameaça turca.
A Turquia também avançou na guerra psicológica, projetando – com televisões, jornais e jornalistas – a ideia de que o regime sírio começa a rachar. Jornalistas e comentaristas turcos já disseminam a palavra. Murat Yetkin, do Hurriyet, jornal diário pró-establishment, reproduziu palavras de um oficial turco que dizia que,
Nosso pessoal [a inteligência turca] em campo já observa que a maioria urbana, que até agora estava preferindo manter-se neutra, começa a apoiar os grupos da oposição. Acreditamos que o povo sírio começa a perceber que o governo está rachando.
De fato, essas emocionantes versões também refletem a preocupação, no establishmentturco, ante a evidência de que o regime sírio não dá qualquer sinal de capitulação, apesar dos incansáveis golpes que tem sofrido dos ‘rebeldes’.

Missão para Moscou
A melhor esperança de Erdogan é que a inteligência turca consiga orquestrar algum tipo de “golpe palaciano” em Damasco, nos próximos dias ou semanas. O que mais alegraria Ankara seria ver Bashar substituído por uma estrutura de transição que conserve elementos da atual estrutura Baathista do estado, o que facilitaria uma transferência ordeira de poder para novo governo – quer dizer, em termos ideais, uma transição em nada diferença do que houve no Egito depois da saída de Hosni Mubarak.
Mas Erdogan não tem certeza de que a Turquia consiga armar um golpe à moda Egito, em Damasco. A corrida de Erdogan a Moscou, 4ª-feira passada, foi tentativa de sondar Moscou para saber se seria possível montar uma estrutura de transição, nova e estável, em Damasco, mediante algum tipo de cooperação internacional. (Obama investiu o próprio peso na missão de Erdogan: na 5ª-feira, telefonou pessoalmente ao presidente Vladimir Putin da Rússia, para discutir a Síria.)
Curiosamente, pouco antes de Erdogan sair para o encontro agendado com Putin no Kremlin, aconteceu em Damasco um massivo ataque terrorista, que matou o ministro da Defesa da Síria e seu chefe de Inteligência. Considerado aquele evento, Moscou ouviu polidamente o que Erdogan tivesse a dizer e assegurou-lhe que manteria separação clínica entre os laços estratégicos que unem Rússia e Turquia, de um lado; e, de outro, a questão síria. E a posição russa manteve-se inalterada – como se viu bem claramente, no veto no Conselho de Segurança da ONU, uma semana depois do encontro com Erdogan.
Não há dúvidas de que Moscou já percebeu que o jogo aproxima-se do fim, na Síria. Em entrevista à rede de televisão Rússia Today na 6ª-feira, o embaixador da Rússia à ONU, Vitaly Churkin,[3] falou em termos excepcionalmente fortes sobre o que está acontecendo:
“Infelizmente, a estratégia de nossos colegas ocidentais parece estar sendo encaminhada exclusivamente para fazer aumentar as tensões na Síria e em torno da Síria. Não perdem uma oportunidade. Dessa vez, aproveitaram a circunstância de ser necessário prorrogar o mandato da missão de monitoramento que opera na Síria, e acrescentaram, no mesmo projeto de Resolução rascunhado por eles, inúmeras outras cláusulas inaceitáveis.”.
E continuou, trazendo à cena também o Iraque:
“Não há quem não saiba que os maiores interventores humanitários do planeta – EUA e Grã-Bretanha – intervieram no Iraque, por exemplo, declamando os mais nobres pretextos (naquele caso, a existência de armas de destruição em massa que jamais existiram). O resultado, no Iraque, foram 150 mil mortes, só entre os civis; além de milhões de refugiados e legiões de seres humanos cujas vidas foram arruinadas e vagam pelo país. Por tudo isso, não se deixem enganar pela retórica do humanitarismo ocidental. Na política ocidental para a Síria, há muito mais geopolítica, que humanismo.”
Antes de ir a Moscou, Erdogan foi a Pequim, que também já sente que os EUA estão batendo o martelo sobre a Síria. O Global Times comentou, em editorial, na 6ª-feira, que “É provável que o governo de Assad seja derrubado (...) diminuem muito rapidamente as chances de solução política (...) as coisas na Síria podem mudar bem rapidamente.”[4]
Toni Donilon, Conselheiro para Segurança Nacional dos EUA, está viajando para Pequim: vai tentar descobrir se há alguma chance de conseguir que os chineses moderem a posição sobre a Síria.
Rússia e China veem com bons olhos a era Erdogan, que ampliou os laços entre esses países e a Turquia. A Rússia obteve um contrato de $20-$25 bilhões de dólares para a construção de usinas nucleares na Turquia. A China atraiu a Turquia, como parceiro para os diálogos da Organização de Cooperação de Xangai. A Turquia realizou um segundo exercício de manobras militares com a China, recentemente; e sonha com ser a ponte que venha a unir a OTAN e Pequim.

O homem que não vendeu sua alma [5]
Mesmo assim, ambas, Rússia e China considerarão, na análise, que, com uma “nova guerra fria” em construção, Washington espera que a Turquia volte ao ninho antigo e desempenhe o papel de aliada numa vasta faixa de terra que se estende do Mar Negro ao Cáucaso e ao Cáspio e até a Ásia Central. Em última análise, os EUA jogam com inúmeros trunfos, cortesia da era da Guerra Fria, para manipular as políticas turcas. É o que se vê bem claro na centralidade que Washington atribui ao líder curdo iraquiano Massoud Barzani, na estratégia geral dos EUA.
Obama recebeu Barzani recentemente, na Casa Branca. Barzani passou a ser o “pino de conexão” das políticas de EUA-Turquia para a Síria. Está acontecendo poucos meses depois de a ExxonMobil assinar, em outubro, contratos para desenvolver os fabulosos campos de petróleo localizados no Curdistão, região controlada por Barzani, sem dar atenção aos protestos de Bagdá, de que tal negócio, firmado com uma autoridade provincial, atropelando o governo central, viola a soberania do Iraque.
Semana passada, a Chevron, gigante do petróleo dos EUA, anunciou que também adquirira 80% do controle de outra companhia que opera na região, cobrindo área somada de 1.124 quilômetros quadrados sob o controle de Barzani.
A entrada das empresas ExxonMobile e Chevron muda o jogo na política regional para a Síria. O ponto é que a melhor via para transportar até o mercado mundial o que for extraído dos depósitos gigantes de gás e petróleo no Curdistão é o porto sírio de Latakia, no Mediterrâneo oriental. Não há qualquer dúvida de que aí está uma nova dimensão a considerar no plano de jogo de EUA-Turquia sobre a Síria.
A empresa turca de engenharia e construção Siyah Kalem apresentou projeto para o transporte do gás natural extraído do Curdistão. Evidentemente, em algum lugar do subsolo, os interesses do business corporativo da Anatolia (que tem laços com o partido islâmico que governa a Turquia) e a orientação da política externa turca passaram a convergir. Os interesses de EUA e Turquia sobrepõem-se na geopolítica das reservas de energia do norte do Iraque.
Barzani não é só parceiro comercial de Washington e Ankara; é também agente chave que pode ajudar a encaminhar o problema que a Turquia enfrenta com os curdos. Com o apoio de Washington, Barzani lançou um projeto para reposicionar as várias facções curdas – turcos, iraquianos e sírios – numa nova trilha política.
Mês passado, Barzani organizou reunião das facções curdas em Arbil. Em termos claros: Barzani tentou subornar os líderes de várias facções curdas com fundos que lhe chegaram de Ankara. Diz que conseguiu reconciliar os diferentes grupos curdos sírios. (A insurgência curda na Turquia é comandada por sírios de etnia curda.) Diz também que conseguiu convencer os curdos sírios a romper os laços que os ligam a Bashar e a alinhar-se ao lado da oposição síria.
Esses ecos de Arbil têm peso vital no que Erdogan venha a fazer sobre a Síria. Como lembrou recentemente um importante analista do Washington Institute for Near East Policy, Soner Cagaptay, o xis da questão é que “grande parte da minoria curda, agitada e bem organizada na Síria, não confia na Turquia.” [7]

O salafismo em asas israelenses
Fato é que, em última análise, só Israel pode resolver o dilema de Erdogan. O ministro da Defesa de Israel Ehud Barak declarou no fim de semana que “a Síria tem mísseis antiaéreos e mísseis terra-terra avançados e elementos de armas químicas. Ordenei que o Exército de Israel prepare-se para uma situação na qual teremos de considerar a possibilidade de um ataque.”[8]
Barak acrescentou que “no momento em que [Bashar] começar a cair, nós [Israel] iniciaremos monitoramento de inteligência e nos associaremos a outras agências.” Falou depois de uma visita secreta de Donilon a Israel, na semana anterior. Nos calcanhares da visita de Donilon, chegou a Telavive a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton, depois de um encontro histórico no Cairo com o presidente recém eleito Mohammed Morsi da Fraternidade Muçulmana, que garantiu a Washington que não pensa criar qualquer problema para Israel, em futuro pensável.
As declarações de Barak rompem o fino véu de indiferença que Telavive manteve até aqui sobre os desenvolvimentos sírios. O que emerge, em retrospecto, é que Washington manteve Israel em resguardo até o momento de demolir fisicamente a maquinaria de guerra de Bashar – empreitada que Erdogan não quer assumir ou não tem capacidade para assumir.
O mais provável é que Erdogan já estivesse de sobreaviso, para aparecer ao lado de Barak, mas, político arguto, manteve as aparências de quem muito sofria com a crise síria – ao mesmo tempo em que, clandestinamente, a alimentava.
Em versão simples, Washington passou a perna em Moscou e Pequim. Sempre afirmou que a ideia de os EUA intervirem diretamente na Síria, ou ao estilo da intervenção indireta, por operação da OTAN, como na Líbia, jamais passara pela cabeça de Obama. Como agora se vê, Obama não mentia.
O que se desdobra hoje é visão espantosamente interessante: o salafismo voa nas asas da Força Aérea israelense e vai aterrar em Damasco. Erdogan voltará, com renovado vigor, a sacudir a árvore de Bashar em Damasco. E, a qualquer momento, em futuro próximo, de repente, Barak por-se-á a decepar os galhos da árvore, varrendo-os como raio.
Erdogan e Barak deixarão tão nua a árvore de Bashar, tão desamparada, que ela perceberá a futilidade do esforço para manter-se ereta sobre a própria raiz. E nada de “intervenção militar”, nada de operações da OTAN, ninguém terá analogia alguma a fazer com o que foi feito na Líbia. Nem Erdogan ordenará que seu exército marche sobre a Síria.
A secretária de Estado Clinton diria que isso é o “poder esperto”. Em ensaio grandiloquente intitulado “A arte do Smart Power”, de sua lavra, semana passada, analisando o curioso desenlace do conto da Primavera Árabe, Clinton escreveu que os EUA, hoje, “lideram por novas vias”.[6]
Clinton esclarece que os EUA estão expandindo “sua caixa de ferramentas de política externa para integrar todos os ativos e parceiros, e fundamentalmente mudamos o modo como nós [os EUA] fazemos negócios. (...) A trilha que interliga todos os nossos esforços é um compromisso com adaptar a liderança global dos EUA às necessidades de um mundo em mudança.”
Ao final do dia, Erdogan fará da pedra, sopa, que engolirá untada em banha de porco. A verdade nua e crua é que Israel fará, por ele, o serviço sujo na Síria.
Nada resta a Erdogan, além de aceitar o fato de que não passa de uma das ferramentas na “caixa de ferramentas” de Washington – nada mais, nada menos. Nunca foi seu destino liderar o Oriente Médio muçulmano. O ocidente apenas lhe deu corda, para que se enforcasse na própria conhecida vaidade.
Liderar o Oriente Médio muçulmano é prerrogativa exclusiva de Washington.
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NOTAS
[1] Orig. smart power. Sobre a expressão, ver Eric Etheridge, New York Times, 14/1/2009, “How ‘Soft Power’ Got ‘Smart’” [como o ‘Poder Suave’ virou ‘Esperto’], onde se lê: “No discurso que fez ao aceitar a indicação para o cargo de secretária de Estado do governo Obama, Hillary Clinton usou quatro vezes a expressão smart power [geralmente traduzido no Brasil por “poder inteligente”, mas, mais literalmente, poder ‘esperto’]; na declaração, que antecedeu o discurso de aceitação do cargo, usou nove vezes a mesma expressão” (http://opinionator.blogs.nytimes.com/2009/01/14/how-soft-power-got-smart/) [NTs].
[2] 21/7/2012, New York Times, http://www.nytimes.com/2012/07/22/world/middleeast/us-to-focus-on-forcibly-toppling-syrian-government.html?pagewanted=all
[3] 20/7/2012, “Não se deixem enganar pela retórica do humanitarismo ocidental”, Vitaly Churkin, embaixador da Rússia à ONU, à rede Russia Today (entrevista transcrita e traduzida ao português, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/07/russia-sobre-siria-nao-se-deixem.html) [NTs].
[4] 20/7/2012, Global Times, Pequim, em http://www.globaltimes.cn/content/722217.shtml
[5] Orig. A man for all seasons. É expressão do séc. 16 inglês, tradicionalmente aplicada a Thomas More. Dá título também a uma biografia cinematográfica, que recebeu no Brasil o título de “O homem que não vendeu sua alma” [que se aproveita nessa tradução] (NTs).
[6] 18/6/2012, “The art of smart power”, Hillary Clinton, New Statesman, emhttp://www.newstatesman.com/politics/politics/2012/07/hillary-clinton-art-smart-power. Aí se lê, na conclusão do artigo: “Não há precedente real na história para o papel que os EUA desempenhamos hoje ou para a responsabilidade que assumimos sobre os ombros. Isso é o que torna tão excepcional a liderança dos EUA. Por isso confio que continuaremos a servir e a defender uma ordem global pacífica e próspera ainda por muitos anos no futuro” [NTs].
[7] 20/7/2012, http://globalpublicsquare.blogs.cnn.com/2012/07/20/should-turkey-be-afraid-of-the-syrian-kurds/ .
[8] 20/7/2012, Jerusalem Post, Israel, http://www.jpost.com/Defense/Article.aspx?id=278314 .

domingo, 22 de julho de 2012

Sayyed Nasrallah: “Depois de atacar o Líbano, Israel atacaria a Síria.”

O Hezbollah deteve Israel, em 2006
Nour Rida, Moqawama, Líbano
http://www.english.moqawama.org/essaydetails.php?eid=20509&cid=258

Dia 18/7, no 6º aniversário da Divina Vitória da Resistência Islâmica no Líbano, o Hezbollah organizou cerimônia comemorativa em al-Raya, sul de Beirute, cujo lema foi “Não há lugar para fraqueza. Não há lugar para a derrota”. Depois de a multidão ouvir trechos do Santo Corão e cantar os hinos do Líbano e do Hezbollah, o secretário-geral do Partido da Resistência, Sua Eminência Sayyed Hassan Nasrallah, falou por videoconferência.

Sayyed Nasrallah agradeceu a presença e deu boas-vindas a todos. Em seguida, anunciou:

“Irmãos e irmãs, há várias questões sobre as quais gostaria de falar, mas desenvolvimentos regionais, especialmente na Síria, e o que houve hoje, obrigam-me a descartar parte do discurso que preparei e a tratar dos desenvolvimentos regionais.”

Antes de falar da violência que atinge a Síria, Sayyed Nasrallah fez uma retrospectiva de um dos eventos mais importantes da guerra de julho de 2006, e contextualizou uma das maiores vitórias da Resistência até agora, acrescentando informações até aqui desconhecidas do grande público.

A Operação “Ilusão Qualitativa” de ‘Israel’[1]

“Nesse 6º aniversário da vitória de julho de 2006, os ‘israelenses’, que organizaram seminários e discussões entre seus altos dirigentes políticos e militares, reconheceram a derrota e deram sinais de que ainda estão em choque por causa da derrota que sofreram em 2006” – disse Sua Eminência.

“A nós, basta lembrar que o chefe do Mossad ‘israelense’ em 2006 [Meir Dagan] disse ao primeiro-ministro de ‘Israel’ [Ehud Olmert] que a derrota ‘israelense’ em julho foi uma catástrofe nacional, na qual ‘Israel’ sofreu nocaute decisivo” – continuou Sayyed Nasrallah, recordando outros altos funcionários de ‘Israel’ que admitiram que a entidade ‘israelense’ foi amplamente derrotada na guerra de agressão que moveu contra o Líbano em 2006.

Sayyed Nasrallah contou que ‘Israel’ estava em manobras, preparando-se para lançar uma importante operação, que recebera o nome de “Operação Peso Qualitativo”, prevista para o dia 14/7/2006.

“O gabinete ‘israelense’ reuniu-se para discutir a operação, para a qual propuseram que se recolhessem informações acuradas de inteligência sobre os mísseis do Hezbollah, os lançadores e plataformas lança-mísseis. O ministro da Guerra à época disse que as manobras dos anos anteriores haviam servido para que o exército israelense localizasse aqueles mísseis e plataformas. Disse ao mini-Gabinete que, se a Operação Peso Qualitativo fosse aprovada, o Hizbollah perderia a capacidade de lançar mísseis de médio e longo alcance contra ‘Israel’.

Uma hora depois de aprovada a Operação Peso Qualitativo, mais de 40 jatos ‘israelenses’ atacaram os alvos que, para ‘Israel’ seriam os locais onde estariam os lançadores Fajr 3 e Fajr 5. Essas localizações foram atacadas. Halutz [ministro da Guerra] telefonou a Olmert [primeiro-ministro de Israel] e disse: “Vencemos. A guerra acabou.”

Dia seguinte, o presidente [Perez], de ‘Israel’, declarou que ‘Israel’ derrotara o Hizbollah, que o secretário-geral fugira para Damasco. Ouvi a notícia onde estava, aqui, no subúrbio sul de Beirute, de onde nunca saí.”

Naquele comunicado, Perez falou também longamente do sucesso da operação da inteligência de ‘Israel’, que recolhera informações; disse que ‘Israel’ alocara muito dinheiro naquela operação que, para Perez, seria comparável à guerra de 1967, quando aviões ‘israelenses’ destruíram grande parte dos aviões da Força Aérea do Egito. Perez também repetiu o que Halutz lhe dissera: que ‘Israel’ destruíra 60-70% da capacidade do Hizbollah de responder com mísseis a ataques de que fosse alvo.

Sua Eminência revelou então o que permanecia em segredo até agora:

“A verdade é que a Resistência descobriu os planos do inimigo e a intenção de bombardear os lançadores e plataformas de mísseis. A partir do momento em que nossa inteligência teve conhecimento daqueles planos, optamos por ‘fazer o jogo’ dos ‘israelenses’; e em alguns casos facilitamos o acesso deles às informações que buscavam.”

“No centro dessa operação estava a mente de um estrategista brilhante, Haj Imad Moghnieh, e sua equipe de bravos.”

“A primeira vitória da inteligência do Hezbollah sobre ‘Israel’ aconteceu quando confirmamos que ‘Israel’ estava convencida de que conhecia a localização das plataformas de lançamento dos nossos mísseis” – disse Sayyed Nasrallah, que continuou:

“A segunda vitória da inteligência da Resistência aconteceu quando se completou a operação de mudança da parte principal dos lançadores e plataformas de lançamento dos mísseis, sem que os ‘israelenses’ suspeitassem de coisa alguma. Tudo foi transferido para locais que o inimigo desconhecia.”

“‘Israel’, assim, atacou plataformas e silos vazios. As plataformas estavam relocalizadas e prontas para atacar Telavive.”

“Por isso, a operação que ‘Israel’ chama de “Operação Peso Quantitativo”, nós sempre a chamamos de “Operação Ilusão Quantitativa”.

“Mais de 70-80% da capacidade da Resistência manteve-se intacta até o último dia da guerra de julho” – disse Sayyed Nasrallah, que continuou:

“No dia seguinte, quando [Israel] deu-se conta de que sua operação falhara, o ministro da Guerra Dan disse ao mini-Gabinete, que tudo levava a crer que ‘Israel’ acabara envolvida numa operação que se estenderia por semanas. Foi quando o presidente ‘israelense’ soube que errara. Errado continua até hoje.”

“A Resistência sabe que os ‘israelenses’ reúnem informação sobre nós e que se preparam para nos atacar. Sabemos qual será seu primeiro alvo, na próxima guerra.”

“Israel será outra vez surpreendida, quando deslanchar o próximo primeiro ataque. Prometemos aos ‘israelenses’ outra grande surpresa.”

“Todos podem confiar que, apesar de toda essa agitação e ruídos, há a Resistência e os combatentes da Resistência que trabalham dia e noite sobre o conflito com ‘Israel’, e que nada desvia ou distrai desse trabalho, venha a gritaria de onde vier e de quem vier. Vencemos em 2000 e vencemos em 2006, e novas vitórias virão, se fizerem guerra contra nós.”

“Sabemos de onde virá o primeiro novo ataque, o que atacarão dessa vez. A Resistência tem as capacidades, a confiança e o desejo de resistir, e podemos vencer. Nosso destino não é nem a derrota nem a retirada, como pretendem tantos ditadores no mundo árabe.”

Sayyed Nasrallah prosseguiu:

“Depois daquele momento, os ‘israelenses’ passaram a analisar, com os EUA, o que acontecera. Porque aquela guerra de julho de 2006 estava planejada para destruir a Resistência no Líbano e, destruída a Resistência no Líbano, destruir todo o eixo da Resistência na região.”

“A segunda coisa que ‘Israel’ teria feito, se tivesse destruído a Resistência do Hezbollah, seria derrubar do governo o regime do presidente Bashar al-Assad e destruir a Síria, sob o pretexto de que a Síria sempre ajudou a Resistência libanesa.”

“Mas a vitória do Hezbollah, na guerra de 2006, impediu que esse plano prosseguisse.”

“Digo-lhes hoje que, se houvesse solidariedade, se não houvesse tantas adagas apontadas para nossas costas no Líbano nesses tempos de guerra de Israel contra nós, já teríamos construído negociações políticas nacionais na Síria[2].”

“Mas há quem ainda tente ajudar ‘Israel’, no plano político, a safar-se da crise em que se meteu.”

O que dizem oficiais de ‘Israel’

Nas palavras de Sayyed Nasrallah,

“O ex-comandante do Exército de ‘Israel” Moshe Ya'alon disse que é evidente que “o Hizbollah é fenômeno implantado, que não pode ser esmagado mediante operação militar; não há o que possa ser usado como pretexto para operação militar conclusiva contra o Hizbollah. Por isso, disse Yalon, a única ação possível é ação política para desarmar o Hizbollah mediante operação doméstica, dentro do Líbano.”

O secretário-geral do Hizbollah acrescentou:

“Ya'alon também disse que se deu conta de que não há meios para remover o Partido da Resistência, do coração dos xiitas. Sugeriu então trabalhar por meios políticos e militares para conter o Hizbollah, para alcançar um ponto no qual o Hizbollah seja visto, no Líbano, como ilegítimo.”

Sayyed Nasrallah alertou para a evidência de que os ‘israelenses’ apostam em desenvolvimentos domésticos no Líbano, para desorientar o Hizbollah. Conclamou os libaneses a que se mantenham alertas.

Sayyed Nasrallah condena o assassinato de líderes sírios

Para o secretário-geral do Hezbollah, o verdadeiro problema dos americanos e ‘israelenses’ é a Síria, onde veem desenvolvimentos importantes em fase recente. Os militares desses países converteram a Síria em problema militar e a fizeram aparecer como possível ameaça a ‘Israel’.

“A Síria é uma via para a Resistência e ponte de comunicação entre a Resistência e o Irã.”

“Tenho duas [provas] do papel da Síria [no apoio à Resistência]. Primeiro, que os mais importantes foguetes que atingiram Haifa e o centro de ‘Israel’ foram construídos pelo exército sírio e doados à Resistência. A Síria sempre auxiliou a Resistência. A Síria nos deu as armas que o Hezbollah usou na Guerra de Julho; não só no Líbano, mas também na Faixa de Gaza.”

Destacando que ‘Israel’ hoje teme Gaza e teme por Telavive, Sayyed Nasrallah perguntou:

“Quem forneceu foguetes aos combatentes que combatem por Gaza? Os sauditas? O regime egípcio? Não. Eram foguetes dados pela Síria e transferidos através da Síria. O governo sírio arriscava a própria sobrevivência e alguns de seus interesses para ajudar a Resistência no Líbano e na Palestina a fortalecer-se e a enfrentar o inimigo de todos. Que regime árabe fez isso? Digam-me um único regime árabe que tenha feito o que fez o governo sírio, pela Resistência.”

“Todos os países árabes sabem muito bem o que significa a Síria dar armas ao Hezbollah, ao Hamás e ao movimento Jihad islâmico, num momento em que os governos árabes impediam que dinheiro, e até comida, chegassem a Gaza!”

“A Síria enviou armas e comida a Gaza e assumiu o risco de fazê-lo. Essa é a Síria, a Síria de Bashar al-Assad, a Síria dos mártires Assef Shawkat, Daoud Rajha e Hassan Turkmani [martirizados nos violentos ataques da 4ª-feira em Damasco]”.

“Hoje, na Síria, há um esquema EUA-‘israelenses’ que proíbe que haja exércitos fortes na região. Esse esquema impede que qualquer estado regional tenha exército forte: só ‘Israel’” – disse Nazrallah.

O secretário-geral do Hezbollah conclamou o povo, o exército e o governo a defender a Síria. E insistiu que a única via para recompor a paz é o diálogo político.

“Devemos isso aos destacados líderes sírios que foram martirizados. Apresentamos ao povo, ao governo e ao exército sírios nossas condolências e condenamos esse ataque que só serve aos interesses do inimigo. Confiamos plenamente que o exército sírio saberá manter-se no controle da situação.”

Irã: principal preocupação dos ‘israelenses’

“A única preocupação de Israel nos últimos anos foi o Irã. Dezenas de canais de televisão em farsi existem exclusivamente para incitar os árabes contra o povo e contra o governo iranianos. A ação desses instrumentos de comunicação social e o incitamento da propaganda ininterrupta levaram aos protestos no Irã.

“Tudo o que EUA e o ocidente podiam fazer contra o Irã, foi feito. E o Irã hoje é 100 vezes mais forte do que há 30 anos. E será ainda mais forte.”

O Exército Nacional Libanês é uma garantia, não uma ameaça

“Há quem hoje pague a mídia no Líbano, para que arruíne o país. Todos sabem que o Hezbollah não é fraco. Temos optado pelo silêncio dos fortes. Mas o Hezbollah põe o interesse nacional acima de qualquer outro. Queremos um exército forte.

Mas digo ao governo do Líbano e ao comitê de diálogo nacional que, para que o Líbano tenha exército forte é preciso ter projeto e desejo fortes. Isso significa que não podemos temer o embaixador dos EUA nem os generais norte-americanos.”

“Há hoje muita retórica sectária e pregadores que contestam essa posição. Se um xiita diz algo que insulta outra seita, nós, os intelectuais xiitas, temos o dever de nos erguer e fazer calar os nossos.

E os intelectuais sunitas, cristãos e drusos têm de fazer o mesmo.”

Sayyed Nasrallah disse que sempre haverá quem, dentro do governo libanês, queira desarmar a Resistência e fornecer armas à oposição síria, porque o governo libanês é feito de partidos de diferentes opiniões. Essas diferenças, como todas as diferenças de opinião, só podem ser superadas mediante diálogo político.

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[1] Na versão em inglês, as palavras “Israel” e “israelenses” aparecem sempre entre aspas simples. O Hizbollah não reconhece a existência do estado de Israel e só muito raramente refere-se a ele como “Israel”, optando praticamente sempre pela expressão “entidade sionista”. Nesse caso, pensando talvez na difusão internacional das revelações que fez, o secretário-geral disse “Israel” e “israelenses”; os órgãos de imprensa do Partido da Resistência adotaram a solução gráfica de anotar essas expressões entre aspas simples, que reproduzimos também nessa tradução [NTs].
[2] Sobre os contatos entre o Hezbollah e a legítima oposição síria, ver “Julian Assange entrevista Nasrallah”, em Russia Today, e em português, entrevista transcrita e traduzida, 18/4/2012, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/04/hassan-nasrallah-hezbollah-entrevistado.html [NTs].


sábado, 21 de julho de 2012

Começou a Batalha de Damasco

Por Thierry Meissan, de Damasco

Os poderes ocidentais e do Golfo lançaram a mais importante operação de guerra secreta desde os “Contras”, na Nicarágua. A batalha de Damasco não visa derrubar o presidente Bashar Al-Assad, mas fraturar o Exército Sírio para assegurar o domínio de Israel e Estados Unidos sobre o Oriente Próximo. Enquanto a cidade se prepara para um novo assalto dos mercenários estrangeiros Thierry Meissan realiza um balanço da situação.


Há cinco dias, Washington e Paris lançaram a operação “Erupção em Damasco, terremoto na Síria”. Não é nova campanha de bombardeio aéreo, mas operação militar secreta, similar à usada no tempo de Reagan na América Central.
De 40 a 60 mil “Contras”, na sua maioria líbios, entraram em poucos dias no país, quase sempre pela fronteira jordaniana. A maioria destes está ligada ao “Exército Síria Livre”(Free Syrian Army), estrutura de fachada para as operações secretas da OTAN, atualmente sob comando turco. Alguns são filiados a grupos de fanáticos, inclusive a Al-Qaeda, estão sob o comando do Qatar ou de uma facção da família real saudita, os Sudeiris.
De passagem, tomaram alguns postos de fronteira, e então se mudaram para a capital, onde semeiam a confusão, atacando alvos aleatórios que eles encontram: grupos de policiais ou militares isolados.
Quarta de manhã, uma explosão destruiu a sede da Segurança Nacional, onde se reuniam alguns membros do Conselho de Segurança Nacional. O ataque tirou a vida do general Daoud Rajha (Ministro da Defesa), do general Assef Shawkat (Vice-Ministro) e do general Hassan Turkmani (assistente do vice-presidente da República). Os termos da operação permanecem incertos: pode ter sido tanto um ataque suicida quanto o disparo de um drone(avião não-tripulado) furtivo.
Washington esperava que a decapitação parcial do aparelho militar levaria alguns oficiais superiores a desertar com suas unidades, ou até mesmo a se voltar contra o governo civil. Isso não aconteceu. O presidente Bashar al-Assad imediatamente assinou os decretos designando seus sucessores e a continuidade do Estado foi assegurada.
Em Paris, Berlim e Washington, os patrocinadores da operação se sentem livres para jogar o jogo indigno que consiste em condenar a ação terrorista, reafirmando o seu apoio político, logístico e militar aos terroristas. Sem pudor algum, eles concluíram que a responsabilidade por esses assassinatos não cabe aos culpados, mas às vítimas, na medida em que haviam se recusado a renunciar sob pressão e entregar sua terra natal aos apetites ocidentais.
Caracas e Teerã enviaram suas condolências a Síria, sublinhando que o ataque foi encomendado e financiado pelas potências ocidentais e do Golfo. Moscou, igualmente, expressou suas condolências e disse que as sanções levadas ao Conselho de Segurança contra a Síria equivalem a um apoio político aos terroristas que realizaram o ataque.
Os canais de TV estatais sírios passaram a transmitir clipes militares e canções patrióticas. Interrompendo a programação, o ministro da Informação, al-Omran Zou'bi apelou à mobilização de todos: o tempo já não é mais de disputas políticas entre governo e oposição, é a nação que está sendo atacada. Lembrando o artigo doKomsomolskaya Pravda em que descrevi a operação midiática de desmoralização preparada pelos canais ocidentais e do Golfo, ele advertia seus compatriotas sobre o desastre iminente. Aproveitou para negar os boatos tóxicos dos canais de TV do Golfo segundo os quais um motim eclodira na quarta divisão e explosões haviam devastado seu quartel principal.
Os canais estatais levaram ao ar várias vezes anúncios que mostravam como capturar seu sinal pelo satélite Atlantic Bird, em caso de interrupção dos satélites Arabsat e Nilesat.
No Líbano, Sayyed Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, lembrou a fraternidade de armas que une o Hezbollah à Síria contra o expansionismo sionista, e garantiu ao Exército Sírio seu apoio.
O ataque foi um sinal para o início da segunda parte da operação. Os comandos infiltrados na capital passaram então a atacar vários alvos, mais ou menos premeditados. Assim, um grupo de cem “Contras” atacou a casa adjacente ao meu apartamento aos gritos de “Allah Akbar!”(Deus é maior). Um militar de alta patente reside lá. Foram dez horas de combate ininterrupto.
No início da noite, o Exército respondeu com medidas. Mais tarde a ordem foi para usar a força sem restrições. Já não era o caso de lutar contra os terroristas que tentavam desestabilizar a Síria, mas enfrentar uma invasão estrangeira que não diz seu nome, e salvar o país em perigo.
A aviação síria entrou em ação para destruir as colunas de mercenários que se dirigiam à capital.
No final da manhã, a calma retornou gradualmente a cidade. Os “Contras” e seus colaboradores em todos os lugares foram forçados a se retirar. O tráfego foi restaurado nas principais estradas e postos de controle foram instalados no centro da cidade. A vida recomeçou. No entanto, ainda ouvimos tiros dispersos aqui e ali. A maioria das empresas estão fechadas, e há longas filas em frente às padarias.
Todos esperam que o assalto final seja lançado na noite de quinta para sexta, e por toda sexta-feira. Há pouca dúvida de que o exército sírio vai sair vitorioso novamente, a correlação de forças é favorável, o exército é apoiado pela população, inclusive pela oposição política interna.
Como era esperado, os satélites Arabsat e Nilesat desligaram o sinal de televisão Ad-Dounia no meio da tarde. A conta de Twitter do Ad-Dounia foi pirateada pela CIA para a divulgação de falsas mensagens que anunciam uma retirada do Exército sírio.
Os canais de TV do Golfo anunciaram o colapso da moeda do país como um prelúdio para a queda do Estado. O governador do Banco Central, Adib Mayaleh, falou em rede nacional de televisão para negar a desinformação e confirmar a taxa de câmbio de 68,30 libras sírias por dólar dos EUA.
Reforços foram mobilizados em torno da praça dos Omíadas para proteger os estúdios da televisão estatal que são considerados um alvo prioritário para todos os inimigos da liberdade. Estúdios de substituição foram instalados no hotel Rose de Damas, onde estão hospedados os observadores das Nações Unidas. A presença destes, que deixaram que se perpetra-se o ataque na capital sem que se interrompe-se a sua ociosidade, é a proteção de factopara os jornalistas sírios que tentam informar os seus compatriotas sobre o perigo que ameaça suas vidas.
No Conselho de Segurança, Rússia e China vetaram pela terceira vez um projeto de resolução dos países do Ocidente e do Golfo para tornar possível uma intervenção militar internacional. Seus representantes têm denunciado incansavelmente a propaganda destinada a transformar o ataque estrangeiro contra a Síria como uma revolta reprimida com derramamento de sangue.
A Batalha de Damasco deve retomar hoje à noite.

(traduzido por Rube, da "Engenhoca do Rube")



DECLARAÇÃO DO EMBAIXADOR SIRIO NO BRASIL SOBRE O ÚLTIMO ATENTADO NA SÍRIA

As matanças e a destruição que ocorreram e vem ocorrendo no país são atos terroristas que visam abalar a Síria, seu povo e sua segurança. Os países que apóiam estes atos terroristas devem parar imediatamente de fornecer este apoio e dar um basta a todos os crimes que já cometeram contra a Síria. O povo sírio, o exército sírio e a liderança síria estão unidos e perseverantes no enfrentamento deste terrorismo e em empurrá-lo para fora da Síria, em defesa de seu povo e sua segurança.
Nós na Síria já nos acostumamos com o fato de que às vésperas da realização das reuniões do Conselho de Segurança das Nações Unidas, estes países promovem o terrorismo dentro da Síria para movimentarem a opinião pública e servir aos interesses de seus planos.

Mohammed Khaddour
Embaixador da República Árabe da Síria no Brasil

Brasília, 18 de Julho de 2012


Rússia, sobre a Síria: “Não se deixem enganar pela retórica do humanitarismo ocidental”

Vitaly Churkin, embaixador da Rússia à ONU [entrevista à rede Rússia Today]
http://www.rt.com/news/syria-russia-diplomacy-resolution-630/

“Infelizmente, a intervenção militar humanitária é sempre só militar; apenas parece humana ou humanitária. Seja qual for o motivo ou pretexto, fato é que qualquer tipo de intervenção militar na Síria só levará a derramamento de sangue ainda maior. Não há quem não saiba que os maiores interventores humanitários do planeta – EUA e Grã-Bretanha – intervieram no Iraque, por exemplo, declamando os mais nobres pretextos (naquele caso, a existência de armas de destruição em massa... que jamais existiram). O resultado, no Iraque, foram 150 mil mortes, só entre os civis; além de milhões de refugiados e legiões de seres humanos cujas vidas foram arruinadas, condenados a vagar pelo país. Por tudo isso, não se deixem enganar pela retórica do humanitarismo ocidental. Na política ocidental para a Síria, há muito mais geopolítica, que humanitarismo.

Conter a influência do Irã no Oriente Médio é outra das principais motivações dos ‘combatentes democráticos’ ocidentais – Arábia Saudita e Qatar –, preocupados com o avanço do que, para eles, seria interesses só do Irã; o mesmo se vê também no Bahrain.

Quanto aos vetos – se não estou enganado, só os EUA vetaram, sozinhos, contra todo o Conselho de Segurança, mais de 60 projetos de resoluções sobre a questão palestina. Quem se sinta incomodado pelo veto de China e Rússia na questão síria, que entreviste os diplomatas norte-americanos, meus colegas, e peça-lhes explicações sobre as dezenas e dezenas de vetos dos EUA contra os palestinos.”
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Rússia e China vetaram, pela terceira vez, um projeto de Resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria, que teria consequências trágicas para Damasco. O embaixador da Rússia à ONU, Vitaly Churkin (VC) – o homem que ergueu a mão e fez parar, pelo menos por hora, a intervenção militar na Síria –, explica, em entrevista a Russia Today, por que a única opção a ser considerada, no caso da Síria, tem de ser uma solução diplomática.

Em entrevista exclusiva a Russia Today, Vitaly Churkin explica o que está acontecendo na Síria e por que creem que o conflito já ultrapassa as fronteiras do país.

Russia Today:A decisão da Rússia, de vetar esse último projeto de Resolução no Conselho de Segurança causou consternação e muitas críticas à posição de Moscou. A Rússia apoia o regime de Assad?

Vitaly Churkin: É claro que não. Não se trata de quem apoia quem. Trata-se de encontrar solução aceitável para a atual crise. Infelizmente, a estratégia de nossos colegas ocidentais parece estar sendo encaminhada exclusivamente para fazer aumentar as tensões na Síria e em torno da Síria. Não perdem uma oportunidade. Dessa vez, aproveitaram a circunstância de ser necessário prorrogar o mandato da missão de monitoramento que opera na Síria, e acrescentaram, no mesmo projeto de Resolução rascunhado por eles, inúmeras outras cláusulas inaceitáveis. Foi indispensável que Rússia e China vetassem aquele projeto, para garantir a Kofi Annan mais tempo para trabalhar sobre o documento já aprovado por ministros de Relações Exteriores de vários países do chamado “grupo de ação”, pelo qual se exige a criação de um corpo nacional de transição. Para conseguir isso, é preciso que haja diálogo entre as partes em confronto. Nesse contexto, aprovar e converter em Resolução do Conselho de Segurança um documento que só gerará mais sanções contra o governo sírio não é, bem evidentemente, a melhor ideia. Por isso exercemos nosso direito de vetar e bloquear essa decisão que vemos como contraproducente.

Russia Today: OK. Moscou não está apoiando o regime de Assad. Mas EUA, Grã-Bretanha e França dizem que a Rússia abandonou, desamparou o povo sírio. Como o senhor reage a essa acusação?

VC: Você sabe... Eles são muito bons nisso, falam alto, vivem de criticar a propaganda política, que não seria ‘democrática’. Mas, na nossa avaliação, estão dedicados agora exclusivamente à propaganda. Só isso explica tantas críticas, sem qualquer fundamento, mas sempre muito estridentes, contra Rússia e China. Hoje, foram os representantes permanentes de França e Grã-Bretanha que lá estavam, falando e falando. Infelizmente, só repetiram falsidades sobre as políticas externas da Rússia e da China. Deviam concentrar-se, isso sim, em ajudar Kofi Annan.

Infelizmente, até agora nada fizeram para construir e por em andamento um processo positivo e produtivo na Síria. Em vez disso, só fazem reunir o grupo chamado “Amigos da Síria”. De fato, é grupo em que se reúnem todos os inimigos do governo sírio. Não diria que sejam inimigos do povo sírio, mas não há dúvida de que o que une aquele grupo é o desejo de derrubar o governo sírio, sem sequer considerar o que daí advirá. As consequências, segundo nossa avaliação seriam trágicas. Essa política implica tragédia ainda maior, porque o governo do presidente Assad não é governo de um homem ou de um grupo, nem é governo ditatorial. O governo Assad representa um segmento da população síria, uma determinada estrutura de poder que lá está há décadas. Quebrar essa estrutura pela violência, só aumentará a extensão do conflito e o banho de sangue. A Síria precisa de reformas, que só são possíveis mediante diálogo político. Essa é a via razoável para encaminhar a solução daquela crise. Essa é a linha de ação que a Rússia advoga.

Russia Today: Mas até agora, pouco se obteve mediante qualquer diálogo. Parece que... há hoje, em todo o mundo, a sensação de que é preciso fazer algo para deter a matança de gente inocente. O que, exatamente, Moscou rejeita, na intervenção humanitária? Sei que Moscou preocupa-se muito com o risco de o Capítulo 7º [da Carta da ONU] poder levar a intervenção militar. Mas não haveria outro tipo de intervenção, que pusesse fim à matança? O grupo de monitoramento, cuja ação a Rússia está tentando manter, é um modo de intervenção política – intervenção prática –, para tentar deter a violência. Infelizmente, ainda não obteve qualquer sucesso.

VC: Você disse que o diálogo ainda não levou a coisa alguma. O problema, de fato, é que o diálogo ainda nem começou. Os grupos de oposição recusam-se a dialogar com o governo sírio. E grave obstáculo no caminho da missão de Kofi Annan. O governo sírio já se declarou pronto a dialogar com a oposição. Agora, seria hora de testar essa disposição do governo sírio. Aí está um elemento importante.

Infelizmente, a intervenção militar dita ‘humanitária’ é intervenção militar; apenas parece humana ou humanitária. Seja qual for o motivo ou pretexto, fato é que qualquer tipo de intervenção militar na Síria só levará a derramamento de sangue ainda maior. Não há quem não saiba que os maiores interventores humanitários do planeta – EUA e Grã-Bretanha – intervieram no Iraque, por exemplo, declamando os mais nobres pretextos (naquele caso, a existência de armas de destruição em massa... que jamais existiram). O resultado, no Iraque, foram 150 mil mortes, só entre os civis; além de milhões de refugiados e legiões de seres humanos cujas vidas foram arruinadas e vagam pelo país.

Por tudo isso, não se deixem enganar pela retórica do humanitarismo ocidental. Na política ocidental para a Síria, há muito mais geopolítica, que humanismo.

Russia Today: O senhor disse que o que está acontecendo na Síria se espalhará eventualmente também para o Irã. O senhor pode explicar melhor? O risco de o Irã ser o próximo alvo?

VC: Falei sobre o Irã, mas em contexto um pouco diferente. Não estou dizendo que, em seguida, não se mudem para o Irã. Mas, no comentário a que você se referiu, eu falava de outro problema. Você refere-se ao que eu disse hoje no Conselho de Segurança, na ONU. Ali, eu me referia ao interesse dos que pedem intervenção militar já. Conter a influência do Irã no Oriente Médio é outra das principais motivações dos ‘combatentes democráticos’ orientais – Arábia Saudita e Qatar –, preocupados com o avanço do que, para eles, seriam interesses só do Irã; o mesmo se vê também no Bahrain.

Insistem que os xiitas que protestam estariam recebendo alguma espécie de patrocínio do Irã, apesar do que dizem vários observadores – inclusive jornalistas, que conhecem de perto os eventos. Para vários desses observadores, os protestos são genuínos, contra um sistema que, para dizer o mínimo, não é inteiramente democrático. Portanto, não há dúvidas de que há uma dimensão geopolítica nas políticas de vários dos países que, hoje, atacam mais agressivamente a Síria. Isso, evidentemente, nada tem a ver com os interesses do povo sírio.

Russia Today: Qual é a preocupação de Moscou? Dessas implicações geopolíticas das quais o senhor falou tão claramente... Por que Moscou está tão preocupada com essa questão? De que modo tudo isso afetaria Moscou?

VC: O fundamento da posição russa, nesse caso, não é alguma implicação geopolítica – por mais que saibamos, é claro, que uma ampliação do conflito contra o Irã implique problemas para a Rússia. Hoje se trata de fazer ver que a intervenção militar na Síria é desnecessária. E trabalhamos ativamente para resolver pacificamente também o problema do programa nuclear do Irã. A crescente tensão entre o Irã, o ocidente e os sauditas não ajuda a encaminhar nenhum desses problemas.

O que se vê bem claramente hoje é que o povo sírio está sendo sacrificado, numa disputa geopolítica entre grandes potências ocidentais. É preciso por fim ao conflito armado. Não é absolutamente necessário acrescentar, ao quadro do conflito armado local a violência de uma intervenção militar. E não há outro meio para por fim àquele conflito, se não a mesa de negociações.

Há boa base para iniciar essas negociações, no documento aprovado por consenso, pelo “Grupo de Ação” (ministros do Exterior de vários países, reunidos em Genebra), há duas semanas e meia. Esse documento fala de um corpo nacional de governo de transição a ser criado; e que não será jamais criado a golpes de “sanções”, nem intervenção militar, nem pressões contra um lado só e sempre o mesmo lado – o governo sírio. Ora, o governo sírio já declarou que está pronto a iniciar negociações. Já há até representante designado pelo governo sírio para as conversações indispensáveis para negociar a o fim dos conflitos armados na Síria.

O problema é que há grupos na Síria que não querem nenhuma negociação; há grupos extremistas; há grupos armados que têm interesse na escalada da violência, inclusive com ataques terroristas, como o que houve ontem em Damasco. Não estou dizendo que o governo sírio jamais antes tenha recorrido à violência excessiva; também aí se cometeram erros graves, e ataques injustificáveis ao longo desses meses. Mas, agora, é hora de negociar e pôr fim à violência dos dois lados. A menos que alguém tenha algum interesse em que a guerra na Síria se prolongue por muitos anos, é indispensável iniciar um diálogo imediatamente.

Russia Today: A Rússia não abandona a posição contra a intervenção militar na Síria. Não haverá algum perigo, em assumir posição tão isolada, tendo de vetar e vetar sempre qualquer sanção contra a Síria, se se sabe que a Russia está fornecendo equipamentos ao exército sírio? Sabemos que Moscou já declarou que os equipamentos não são usados contra civis. Mas... não é posição difícil de defender? Como ficarão a reputação da Rússia e as relações entre a Rússia e os países aos quais os vetos russos se opõem, tão declaradamente, depois de superada a crise síria?

VC: Não se pode adivinhar. Entendo que a Rússia está fazendo o que tem de fazer, fazendo o mais certo, sem seguir uma ou outra política de catástrofe. Aí está uma luta que me orgulho muito de estar lutando, que talvez leve a um novo e melhor curso de ação e a políticas que levem a melhores resultados. É luta que a Rússia está lutando em circunstâncias muito difíceis.

Quanto aos vetos... Se não estou enganado, só os EUA vetaram, sozinhos, só o veto dos EUA contra a aprovação de todo o Conselho de Segurança, mais de 60 projetos de resolução sobre a questão palestina. Quem se sinta incomodado pelo veto de China e Rússia, na questão síria, que vá entrevistar os diplomatas norte-americanos, meus colegas, e peça-lhes explicações sobre as dezenas e dezenas de vetos dos EUA contra os palestinos. Não raras vezes, os representantes norte-americanos no Conselho de Segurança ‘vetam’, até, declarações do próprio presidente ou da secretária de Estado!

De fato, o veto é uma instituição da Carta da ONU. É direito tão perfeito e legítimo quanto o voto a favor. Nada há de errado em vetar, quando vetar é absolutamente necessário e indispensável, como no caso da Síria, hoje, quando se trata de impedir que mais um país seja destruído, como se a ‘intervenção militar humanitária’ ocidental já destruiu o Iraque e, mais recentemente, também a Líbia. (...)

Russia Today: E sobre a missão dos observadores da ONU na Síria? Que sentido há em manter lá essa missão que, até agora, nada conseguiu?

VC: A missão deve ser mantida lá, por várias razões. A primeira delas é que a missão é fonte de informação objetiva. Além disso, é importante que a missão esteja lá, também para avaliar a real situação da população, vendo a situação de perto. Retirar de lá a missão da ONU seria como abrir caminho para ações ainda mais terríveis, de consequências ainda mais graves. Já estamos, de fato, entrando em outra batalha diplomática. Trata-se agora de conseguir manter a missão lá, e tecnicamente operante, sem sobrecarregá-la com limitações e implicações políticas.

Tradução: Vila Vudu

terça-feira, 17 de julho de 2012

Obama e seu Oriente-monstro

Manlio Dinucci, Il Manifesto, Itália

Os EUA defendem a democracia há 236 anos: foi o que disse Hillary Clinton no Cairo. Quer dizer: ela já apagou da história as mais de 160 intervenções armadas que o imperialismo norte-americano obrou pelo mundo, a partir dos anos 1940s; as guerras do período da Guerra Fria, no Vietnã, no Laos, no Cambodia e no Líbano; os golpes orquestrados pela CIA na Guatemala, Indonésia, Brasil, Chile e Argentina; e as guerras do período pós-Guerra Fria no Iraque, Somália, Iugoslávia e Afeganistão.
Clinton guarante que o governo Obama mantém o mesmo compromisso em todas essas ações. De fato, se se considera a estratégia posta em prática pelo Republicano George W. Bush, do “Oriente Médio Expandido” (para incluir o Norte da África e a Ásia Central), Barack Obama, Democrata (e recipiendário de um Prêmio Nobel da Paz), mantém, sim, o mesmo compromisso, com a mesma estratégia, cujo alvo é toda a região do Pacífico Asiático, em declarada provocação a China e Rússia.
O primeiro passo foi à guerra contra a Líbia, país que (com Bill Clinton e Bush fizeram na Iugoslávia) foi demolido, como estado unificado, para implantar no poder governantes servis, que obedeçam Washington. Assim se chegou a “eleições livres” na “Líbia livre”, vencidas pelo “liberal” Mahmoud Jibril, cuja vitória passa a ser responsabilidade do desejo popular.
Quem diga isso ignora o fato de que os EUA e outras potências ocidentais gastaram milhões, na Líbia, para comprar o apoio de organizações e grupos tribais. Ignora também que Jibril é homem de confiança de Washington, economista formado nos EUA e propagandista do neoliberalismo econômico no mundo árabe. Em 2007, Jibril foi nomeado presidente do Conselho de Governo líbio para o desenvolvimento econômico, organismo ligado a empresas transnacionais de capital norte-americano e britânico. Nesse posto, Jibril alertou Washington para o fato de que Gaddafi bloqueara o projeto de privatizar a economia líbia e formar um governo ou grupo de influência no governo, de tendências ocidentalizantes. Disse também que aumentavam as pressões chinesas e russas. A vitória de Jibril começou a delinear-se, nas mesas de conspiração.
Dia 30/3/2011 (dez dias antes do início da guerra contra a Líbia), o New York Times escreveu, com informação de releases do governo Obama: “Se a intervenção de forças norte-americanas e ocidentais derrubar Muammar Gadhafi, Mahmoud Jibril pode ser o novo líder líbio.”
A guerra contra a Líbia é o modelo que os EUA adotaram para desintegrar outros estados, entre os quais Síria e Irã, que impedem o avanço na direção leste. Dado que vários países relutam, sem aceitar a implantação de bases militares dos EUA em seu território, o Pentágono está ocupando águas territoriais, a começar pelo Golfo Pérsico, e avançando gradualmente na direção leste, usando navios especiais que servem como bases flutuantes para forças especiais.
Outras bases aéreas e navais já estão instaladas ou foram ampliadas, nas Filipinas, em Cingapura, Austrália e outros países. Em Cingapura, está ancorado o primeiro “navio de combate litorâneo”[1]. É um novo tipo de navio de guerra, que se pode aproximar da costa e atacar áreas em terra. A Marinha dos EUA já deslocou cerca de 50, para o Pacífico.
Além da ofensiva diplomática, para criar disputas entre a China e países vizinhos, Clinton fez uma “visita histórica” ao Laos. Prometeu $9 milhões para o trabalho de remover minas e posou para fotografias ao lado de um menino mutilado, vítima de munição não detonada, cerca de 30% dos 2 milhões de toneladas de bombas que os EUA descarregaram contra o Laos em 1964-1973. Claro. Sempre defendendo a democracia.

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[1] Orig. Litoral Combat Ship (LCS), em http://www.naval-technology.com/projects/littoral/

Tradução: Vila Vudu