sábado, 23 de junho de 2012

Aos refugiados do Sudão: “Israel está com o homem branco”


Essas palavras espantosas foram ditas pelo ministro do Interior de Israel, Eli Yishai, em recente entrevista[1] na qual expôs o pensamento do governo israelense sobre os migrantes africanos no país.
Na mesma entrevista, publicada no jornal Maariv, Yishai acrescentou que “Esses infiltrados, assim como os palestinos, em pouco tempo nos levarão ao fim do sonho sionista.”
Em referência especial às algumas centenas de refugiados do Sudão do Sul que vivem em Israel, os comentário de Yishai apareceram no momento em que o governo de Israel começa a aplicar suas novas políticas para expulsar do país os sul-sudaneses[2].
Até aqui, os poucos refugiados sul-sudaneses que viviam em Israel, cerca de 700, tinham autorização para permanecer no país. Mas o governo de Israel, que acaba de vencer rápida disputa judicial, conseguiu impor seu argumento, segundo o qual a permanência dos sudaneses em Israel já não se justifica, depois de o Sudão do Sul ter sido criado, quando o país foi dividido, ano passado.
Os que se opõem à expulsão dos imigrados sudaneses argumentam que muitos deles correm risco de sofrerem violências, se forem obrigados a voltar. Mas nem Yishai nem Netanyahu, que também se expressou em termos semelhantes, dão qualquer sinal de preocupação com a sobrevivência dos africanos.
O governo de Israel iniciou os movimentos para expulsar os africanos e o discurso oficial apareceu imediatamente depois de cenas de violência em Telavive[3] e em outras cidades, bem claramente provocados pelo discurso racista incendiário de autoridades do gabinete israelense. Os atos de violência atingiram residências e propriedades de africanos, alvos de atos de vandalismo.
Na 2ª-feira, vários refugiados foram embarcados e levados para Juba, no Sudão do Sul. E outros “voos da vergonha”, como estão sendo chamados, estão previstos para a próxima semana.
Há hoje, no total, cerca de 60 mil migrantes africanos que vivem em Israel. O movimento dos israelenses, de expulsar os sul-sudaneses, que são grupo relativamente pequeno, sugere fortemente que o governo israelense esteja usando os sul-sudaneses para ‘dar um recado’ aos demais migrantes. Israel não pode deportar outros grupos de migrados, do Sudão e da Eritreia, porque está preso a compromissos internacionais. E as recentes deportações estão tendo o efeito de aterrorizar outras comunidades de africanos que vivem em Israel.
Se se consideram as terríveis condições em que vivem os palestinos, e, agora, depois que se divulgaram as recentes deportações forçadas de sul-sudaneses, já não se vê por que não se poderia denunciar Israel como “estado de apartheid”.
Tem havido forte oposição contra as práticas racistas do governo de Israel. A escritora Alice Walker, muito conhecida em todo o mundo, acaba de negar autorização a uma editora israelense para traduzir e publicar seu aclamado romance A Cor Púrpura. Walker explicou[4] as razões pelas quais negava aquela autorização e disse que, ao negar permissão para que seu trabalho fosse comercializado em Israel, incorporava-se à campanha mundial de boicote e desinvestimento contra Israel, como forma de protestar contra um governo opressor e de apartheid.
A continuada perseguição dos palestinos, politicamente e ideologicamente; o sistema judicial-militar; e, agora, a campanha racista contra populações não brancas bastam para evidenciar o tipo de consenso que há no governo israelense. A teoria da raça superior e do povo escolhido não é novidade no mundo, com outras teorias que se construíram em torno de conceitos de eugenia. Todas essas teorias, como as ideias reunidas sob a marca registrada do sionismo, são perigosas e já deveriam ter sido enterrradas em todo o mundo, há muito tempo.
Yishai e sua gangue dedicam-se hoje a tentar ocultar, sob rótulos e práticas pressupostas democráticas, as novas leis racistas da política israelense de imigração.
Estranhamente, ao mesmo tempo em que muito falam de os sul-sudaneses terem o ‘direito’ de retornar ao país de origem, Israel nada se diz sobre o direito dos refugiados palestinos retornarem, eles também, à terra que lhes foi roubada. Será que Israel receberá de braços abertos os palestinos que desejem voltar?
Essa questão – o direito de retorno – atravessa o coração da luta que os palestinos travam contra o estado ocupante de Israel, questão que Israel conveniente e continuadamente evita.
Mantém-se, cada vez mais acentuada, a percepção de que está em curso em Israel um processo de ‘limpeza’ étnica. O governo de Netanyahu, de fato, já declarou, sem meias palavras, que “está com o homem branco”.

Autor: Richard Sudan

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[1] 12/6/2012, Electronic Intifada, http://electronicintifada.net/content/sudanese-face-expulsion-minister-declares-israel-belongs-white-man/11394
[2] 3/6/2012, Haaretz, http://www.haaretz.com/news/national/israel-enacts-law-allowing-authorities-to-detain-illegal-migrants-for-up-to-3-years-1.434127
[3] 3/6/2012, The Independent, http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2012/jun/06/israel-rightwing-europeans-migration-toxic
[4] http://www.pacbi.org/etemplate.php?id=1917

Fonte: Vila Vudu


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